Nos últimos dias um vídeo no canal da rapper Lívia Cruz causou polêmica na Internet.
A artista paulistana liberou em seu canal um quadro chamado “React Objetificando” onde ela inverte a lógica e “objetifica” alguns homens negros do Hip Hop. O vídeo não foi bem aceito e muitos acusaram Lívia e Barbara Sweet de racismo fazendo com que o vídeo tivesse que ser apagado.
Vendo toda a polêmica que surgiu, Lívia decidiu fazer um pronunciamento nas redes sociais onde em um logo texto tentou explicar o que queria passar com o vídeo.
“Salve!!
Venho aqui me posicionar sobre os questionamentos apontados pelo vídeo que lancei no meu canal “react objetificando”. O quadro, como já implícito no titulo, teve como objetivo inverter a lógica de gênero, a qual mulheres são constantemente submetidas, quando nos mulheres lançamos nossos trabalhos nas plataformas, os comentários são SEMPRE direcionados aos nossos corpos, no vídeo em questão, fizemos o mesmo “reagindo” a vídeos de RAP nacional só com homens, nenhum comentário sobre conteúdo artístico, somente sobre aparência.
A questão é que percebemos da pior forma que combater machismo usando as mesmas armas opressoras que usam contra nós é ineficiente. Elegemos a estratégia de reforçar estereótipos – assim como os homens fazem conosco todos os dias – e caímos no ostracismo do racismo estrutural do qual todos nós estamos submetidos posto que vivemos infelizmente numa sociedade racista.
Crescemos, brancos e negros, em uma sociedade que coloniza nossas mentes e que manter a estrutura de opressão onde os negros são sempre marginalizados e estereotipados é fundamental para fortalecer os poderosos. A mulher também está nessa base. Foi a primeira propriedade do homem branco. Enquanto mulher branca, precisei todos os dias rejeitar conceitos tanto machistas quanto racistas que me foram transmitidos e impregnados e estou aqui pra rejeitar mais uma vez. Evoluir é um processo lento, que gera também muita reflexão, muita desconstrução e isso mostra o quanto essa luta contra qualquer tipo de opressão é necessária.
Eu e a convidada Barbara Sweet, fazemos Rap há mais de 15 anos, estamos imersas nessa cultura, bem como a misoginia que anda junto com ela, conhecemos, trabalhamos e dividimos espaços com todos os citados no vídeo, bem como acompanhamos o desenvolvimento das suas carreiras e conhecemos seus discursos. Isso nos fez ter ainda mais respeito por toda cultura afro-descendente presente no movimento hip hop, que nos ensinou tudo que sabemos até hoje.
Causar incômodo com a lógica invertida era esperado, era o objetivo, mas esperado este desconforto apenas das relações de gênero, não nas relações raciais, por isso a decisão de excluir o vídeo para que as coisas erradas que dissemos não sigam sendo propagadas, porque reforçar estereótipos é sim o que dissemina ainda mais violência às mulheres e ao povo negro. Reitero o pedido de desculpas a todos os homens e mulheres negras que apontaram com legitimidade racismo intrínseco nas nossas palavras, dos quais queremos nos libertar e lutamos juntos pra libertar também nossos filhos.”