Logo após sua estreia alarmante na cena, Abebe Bikila demonstrou não curtir estar numa zona de conforto e seguir na fórmula que estava emplacando, coisa que, se falando de arte, não há sentido e faz com que se perca a ingenuidade da coisa.

Em seu álbum de apresentação, englobando a maioria de suas influências, inspirações, referências e experiências acumuladas desde o começo no cenário musical como video-maker, aos primeiros passos integrando o Nectar Gang, BK’ destrinchou e passou suas visões sobre os altos e baixos que lhe cercavam, sendo castelos e ruínas de fato, aproveitando e fazendo trocadilhos para manifestar-se sobre o sistema e donos de poderes.

Após botar sua cara no jogo e obter mais recursos e outras possibilidades de colocar seus pensamentos em prática através de suas músicas, é iniciada a construção do segundo disco, de consolidação. Para este, Abebe resolveu mudar expressivamente na sonoridade.

Com a intenção de não promover uma difícil e demorada absorção por parte do público, como ainda foi, entretanto, poderia ser maior; BK’, cerca de um ano antes do lançamento tão esperado, transformou em um EP de dois volumes sua ansiedade e incerteza do que seria de si quando Gigantes chegasse às ruas, já utilizando de parte da musicalidade imposta no disco.

Se tratando de um artista sem verbas ou empresários para investir em sua arte inicialmente, é de costume que, pelo menos no projeto de estreia, ele corra atrás de algo que o viabilize e permita-o construir e lançá-lo. Porém, caso não receba um mínimo retorno com essa primeira obra, vai se tornando desafiador a continuação repentina dos lançamentos. Aí talvez estivesse a ambição de Abebe pela chegada do “Gigantes”. Sua vida e carreira estavam ali, em jogo.

A partir daí, algo que pode-se tirar como aprendizado é que devemos dispensar expectativas sobre as obras do rapper, que está prestes a lançar o seu quarto álbum, em novembro.