Ataques à contracultura

Escrito por Fellipe Santos 24/03/2019 às 11:09

Foto: Divulgação

“Pretos fazendo dinheiro é tudo o que eu vejo”.

Esse trecho de “Vivos”, de BK e Baco Exu do Blues, mostra uma realidade atual que parece que as autoridades do Estado do Rio de Janeiro não estão gostando. Mais do que simplesmente ter dinheiro, o mundo é movido pelo poder. Poder de mudar as vidas das pessoas por ser influente politicamente, comercialmente, entre outros fatores.

A música sempre está presente no dia a dia de cada um, afinal, ela move o mundo e ultimamente tem movido muito dinheiro. Orochi, por exemplo, negro e pobre de São Gonçalo ganhou notoriedade no mundo do hip-hop por suas rimas inteligentes e debochadas na batalha do Tanque. Cresceu musicalmente e hoje, através, das suas letras passa a sua história e visão de mundo para milhares de jovens, que compram o discurso. Isso para “os engravatados poderosos” é um risco, pois perdem uma massa de manobra e ganham uma série de críticos contra o sistema. A detenção do rapper no último domingo (17), com alegação que ele estava portando drogas e desacatou o policial, foi um claro recado para todos que pensam em seguir seus passos de ser um favelado rico.

“Dois policiais militares que atuavam na UPP da comunidade à época não citaram o DJ em seus depoimentos. Um deles disse que a UPP sempre recebia reclamações sobre drogas e armas nos bailes, mas não conseguia verificá-las porque era recebida a tiros e não era possível chegar ao local. O agente declarou não conhecer o DJ, nem ter informações de sua atuação na organização dos eventos.” Lendo isso você acharia um absurdo prender tal DJ, né? Poderia ser qualquer um, por exemplo DJ de festa eletrônica em bairros ricos onde todos sabem que rolam muitas drogas. Mas não. Aconteceu com outro preto e favelado que está ganhando o Brasil com a sua arte musical. Provavelmente os filhos e filhas dessas pessoas responsáveis pela a prisão do DJ Rennan da Penha já dançaram muito ao som do 150 bpm, ritmo popularizado por ele. Com cerca de 15 shows por semana (cada show com um valor alto de cachê), obviamente, Rennan não precisa ser “olheiro” do tráfico como alega a justiça. É comum moradores alertarem quando chega um carro blindado, vulgo caveirão, na comunidade para os outros não saírem de casa por possíveis trocas de tiros ou para tirarem seus veículos na rua, pois todos sabem que quando a polícia entra na favela é pra matar. Mais um “cala a boca” na favela, agora outras pessoas que sonhavam em contar a sua realidade no cotidiano e melhorar de vida com isso ficarão om medo.

É isso que o sistema quer! Preto de favela conquistando poder através da música é ruim para o sistema. Para eles lugar de preto de favela é servindo o sistema, lutando todo os dias numa profissão que não dê uma condição de vida melhor, não só para ele, mas também para os seus filhos. Isso gera um ciclo vicioso onde quem é pobre, sempre será pobre, e quem é rico, sempre será rico.

Recomendados para você