Big Day da Big D foi histórico!
No último sábado (03), a artista baiana Duquesa celebrou seus 25 anos com um show esgotado na Audio, em São Paulo. O evento, batizado de B-Day da Big D, foi muito mais que uma comemoração de aniversário: marcou uma virada simbólica na trajetória da artista, consolidando sua nova fase com presença, narrativa e maturidade. Desde os primeiros minutos ficou claro que o show não seguiria uma estrutura convencional. A entrada com Fuso, seguida de Única, já anunciava que ali havia direção. Cada bloco da apresentação foi construído com intenção, luzes, figurinos e transições acompanharam o roteiro emocional da noite, costurando cenas que refletiam camadas da artista.
Durante o show, Duquesa compartilhou que o dia também marcava seus 10 anos de carreira. Foi nesse contexto que ela adotou o nome Big D, não como ruptura, mas como afirmação: ela cresceu, amadureceu e agora ocupa o palco com clareza sobre quem é e sobre o tamanho da própria voz. A Big D não nasceu naquela noite, ela foi construída faixa por faixa, verso por verso, até se tornar inevitável.
O repertório também trouxe novidades. A artista estreou ao vivo a faixa inédita Tão Quente”, uma aposta com clima R&B que remete ao seu primeiro EP, Sinto Muito. A música, apresentada num bloco mais intimista do show, indica caminhos sonoros que Duquesa deve seguir em breve. Em entrevista, ela mencionou a vontade de colaborar com Budah, Cristal e Semiseria, nomes com os quais compartilha estética, visão e afeto.
O ponto de maior explosão coletiva veio com 99 Problemas. A plateia cantou cada verso com tanta força que, por alguns instantes, o microfone da artista quase não foi necessário. Foi o tipo de momento em que a música deixa de ser performance e vira identidade coletiva. Ali, artista e público eram uma só voz. Mas a potência do show não veio só da música. A estrutura também falou alto. O palco contou com uma baixista mulher na banda, e os bastidores foram ocupados por uma equipe diversa, formada majoritariamente por pessoas pretas, mulheres e corpos dissidentes. No B-Day da Big D, representatividade não foi discurso de palco, foi prática concreta.
Em um dos momentos mais simbólicos da noite, o público levantou cartazes com a frase “Feliz Aniversário Big D!!!” e cantou parabéns em coro. Era mais que carinho: era o reconhecimento de uma trajetória construída com verdade, à margem do centro, e que agora ocupa o espaço que merece. Uma mulher preta, nordestina, sendo ovacionada por uma plateia que se reconhece nela, isso não é só bonito. É político.
Outro ponto marcante foi o discurso antes de Só Um Flerte pra Vampiro, quando Duquesa falou sobre relacionamentos abusivos e sobre o processo de se reerguer. Sem espetáculo, ela compartilhou sua vivência com vulnerabilidade e coragem. Era um lembrete de que sua arte não é apenas estética, é sobrevivência em forma de som.
Com uma plateia composta majoritariamente por mulheres, pessoas pretas e LGBTQIA+, o evento refletiu com fidelidade a base que Duquesa representa. O B-Day da Big D foi a materialização de uma década de construção. E embora ela ainda não seja uma liderança isolada da cena, é parte de um movimento que cresce, se organiza e entrega, com consistência, visão e estratégia. Duquesa mostrou que sabe onde está, com quem caminha e o que quer dizer. E fez isso com sensibilidade, método e presença. O B-Day da Big D não foi só um marco pessoal, foi um espelho de um novo momento no rap nacional: aquele em que as mulheres não pedem passagem. Elas constroem o caminho.
