Como Chadwick Boseman e seu Pantera Negra transformaram a vida de crianças negras nas favelas do Brasil

Escrito por Renan 04/09/2020 às 21:12

Foto: Divulgação
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Jovens, negros brasileiros se aglomeraram para ver o filme “Pantera Negra” e se viram em Wakanda.

Jackson Duarte, de sete anos, foi duas vezes assistir ao filme “Pantera Negra” nos cinemas com a sua mãe. O filme, estrelado pelo grande ator Chadwick Boseman, mudou Duarte, que mora na periferia do Rio de Janeiro, desde de quando nasceu. “Somos sujos” e “Não quero ser negro”, eram algumas das coisas que Duarte costumava dizer, disseram seus pais à VICE News em um artigo que mostra a importância do herói de Boseman para milhões de jovens negros pelo mundo.

“O ‘Pantera Negra’ acabou com isso”, disse o pai do menino, Alan Duarte, que nasceu e foi criado nas favelas do Complexo do Alemão no Rio de Janeiro. “Ajudou-o a ter referências para a sua cor, para a sua raça e a ver a força dela.”

É por isso que Duarte, como tantos outros moradores das favelas do Brasil, os bairros vibrantes e estigmatizados da classe trabalhadora de maioria negra aglomerados nas periferias das principais cidades do país encontrou algo comum em Wakanda.

O falecimento do ator Boseman, de 43 anos, deixou muitos no Brasil abalados. Para as favelas de todo o país, o lançamento de “Pantera Negra” marcou uma virada na representação cultural.

Com o lançamento do filme no início de 2018, os líderes da favela e os organizadores da comunidade agiram imediatamente, financiando coletivamente as exibições locais e as viagens de ônibus aos cinemas. Para os garotos da favela, muitos dos quais nunca haviam assistido a um filme nas telas grandes dos cinemas, essa foi a chance de ver um herói que se parecia com eles. Em um desses passeios, René Silva, fundador do meio de comunicação da favela, Porta Voz das Comunidade, fez uma exibição para 300 crianças, projetando o filme no alto dos morros da favela Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro.

Nas favelas do extremo leste de São Paulo, a Biblioteca Comunitária Assata Shakur combinou exibições locais com atividades artísticas para crianças. Ver um elenco quase todo negro fez com que a garotada “se sentisse representada”, disse a ajudante de biblioteca Maria Vitória Esquivel, de 18 anos. “Fizeram comentários como ‘ele tem o cabelo igual ao meu’ e ‘quero ser o pantera negra’. Essas reações apenas fortalecem nossa vontade de continuar trabalhando com representações positivas.”

E não eram apenas crianças. O filme impressionou uma geração de jovens nas periferias do Brasil. “Era mais do que um filme”, disse Anna Verena, 22 anos, artista e designer gráfica de Feira de Santana, uma das poucas cidades do interior nordestino com cinemas comerciais. Os espectadores vieram de todo o estado da Bahia, planejando viagens durante a noite apenas para assistir ao filme.

“Foi a primeira vez que vi tantos negros sonhando com um universo fictício e tendo um universo com o qual me identificar”, disse ela. “Foi algo que eu nunca senti na minha vida”, disse Ivana Dorali, uma jornalista de 34 anos de Salvador, Bahia. “É transformador ver a si mesmo em um papel de heroísmo, de liderança. Isso muda sua visão sobre você mesmo, sobre quem você é, sobre do que você é capaz. ”

Mesmo após a morte de Boseman, disse Alan Duarte, o pai de Jackson, seu legado de “Pantera Negra” viverá. “Para as crianças de favelas e periferias, ele nos deu argumentos, nos deu força para enfrentar o racismo no resto da cidade, dizendo que somos super-heróis. Somos wakandans.”

Artigo original disponivel na Vice em inglês.

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