Depois de muita conversa nos bastidores do Rap Di Mina, entramos em um consenso da importância da “dixavação” do verso, não exatamente da importância de explicar um verso em si, mas sim por estarmos frente a uma geração qual consome rápido demais, deixando até mesmo a interpretação de lado.
E assim estreamos a coluna “Dixavando”, onde toda semana “mastigaremos” versos de uma MC em específico, explicando as suas referências usadas — porém nem sempre.
Em primeiro lugar, queremos deixar claro que nossa interpretação não é a única correta, diversas vezes o MC pode usar uma referência com múltiplos sentidos, então não queremos e não podemos limitar a interpretação do público, mas sim escurecer algumas referências e, as vezes, explicar versos.
Explicado isso, acho que podemos dar abertura a nossa mais nova coluna.
Dixavando Drik Barbosa em “Avuá”:
“Avuá” é a primeira Cypher da Laboratório Fantasma com participação de Emicida, Fióti, Coruja, Rael, Kamau e Drik Barbosa. O single foi lançado ao vivo durante o desfile da grife LAB, no SPFW de 2017, qual a coleção carregava o mesmo nome que o single “Avuá”. Avuá foi um fato histórico para o rap nacional, uma vez que era a primeira vez que MCs nacionais se apresentavam na Fashion Week.
O público, que costumava ser majoritariamente branco, passou a ser o mais diversificado possível e, inclusive, majoritariamente preto. Fióti foi barrado na entrada do desfile da própria grife, a passarela foi sinônimo de diversidade: preto, branco, alto, baixo, magro, gordo. Tudo no desfile da LAB soou revolução e, é nesse clima de revolução que dixavaremos a parte de Drik Barbosa em “Avuá”.
“Matei mais dragões que Alice”
Possivelmente Drik faz referência a “Alice no País das Maravilhas”, onde a personagem do filme enfrenta Jaguardarte, um dragão.
“Punho cerrado, eu disse: tamo em formação”.
Aqui possivelmente Drik faz referência a Formation, de Beyoncé, que se tornou um símbolo de resistência do povo negro em todo o mundo. Porém em “Sem Clichê”, Drik Barbosa realmente usou o termo “tamo em formação”.
“Tipo Chimamanda, trago informação”.
Nesse trecho, Drik Barbosa fala de Chimamanda Ngozi Adichie, uma feminista e escritora nigeriana, famosa por seus títulos Hibisco Roxo, Americanah e Meio Sol Amarelo e também por seu discurso “Todos nós deveríamos ser feministas”, que foi usado em trechos de “Flawless”, de Beyoncé. A cantora também reforça a ideia de que, como Chimamanda, ela traz informações relevantes em suas músicas, como empoderamento negro e feminino.
Triunfo pra nós, viva o povo preto / A rua é nóiz, então segue o flow
Aqui a cantora reverencia o povo preto e também faz referência a “Triunfo”, primeiro single oficial de Emicida, lançado em 2008. “A rua é nóiz” virou bordão na mesma época em que os três temores (Rashid, Projota e Emicida) começaram a aterrorizar a cena, dando uma nova projeção para o rap nacional na época. O termo hoje está presente em várias roupas da grife LAB.
“Disseram que eu não deveria sonhar / Sonhei alto que nem Maya Angelou.”
Maya Angelou foi uma escritora preta estadunidense. Angelou lutou pelos direitos civis, além de ser historiadora e poetisa. A caminhada de Maya Angelou foi longa, terminando apenas em 2014, quando a escritora faleceu na manhã do dia 28 de maio.
Sou pássaro livre e tô pra cantar / Mulher do fim do mundo / Eu sigo e vou
Aqui Drik fala do álbum “Mulher do Fim do Mundo”, de Elza Soares, lançado em 2015. “Mulher Do Fim do Mundo” aclamou Elza Soares como cantora do milênio.
Como diz minha mana Alt Niss: Se eu for pra essas mina um espelho, eu venci.
Drik Barbosa aqui faz referência a também cantora, Alt Niss, que em Zona Sul 89, declarou que sua missão em vida é servir para as minas como um exemplo positivo a ser seguido.
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Por Andressa Vasconcelos ; Originalmente postado em Rap Di Mina