Em entrevista exclusiva, Akira Presidente fala sobre novos projetos, convicções e mais

Escrito por Rodrigo Costa 28/10/2022 às 11:00

Foto: Divulgação

O Fa7her encontra-se em momento constante de mudança e evolução ao decorrer dos últimos anos, transcorrendo juntamente ao fim da Pirâmide Perdida Records e criação do seu selo musical independente, a Melhoria Music, ao lado da artista Ainá Thelaquisha, com quem é casado, e o manager, produtor executivo e artists and repertoire Guilherme Macedo.

Troquei uma ideia com o rapper sobre tudo que ele vem vivendo, além de algumas ideias e projeções; confira:

Musicalmente, no momento, você vem revisitando o boombap e experimentando o drill. Nesse disco, o que o público pode esperar?

Tá bem puxado pro boombap. Costumo brincar com os caras dizendo que é um salve aos puristas do rap porém com uma pegada bem 2023, uma coisa bem Nova Iorque, trampando em cima do que a galera tem feito lá mas com a nossa cara, misturando bastantes elementos desse tempo aí que a gente veio trampando com o drill, trap e o próprio boombap, trazendo uma estética mais moderna, uma sonoridade nossa.

Gosto muito de experimentar coisas novas e misturá-las sem esquecer minhas raízes. Gosto de ter uma sonoridade minha. Dificilmente a gente faz uma coisa que ninguém tá fazendo, parecida ou igual, mas gosto de fazer algo que seja bem exclusivo, que eu me sinta bem representado por mim mesmo ali. Não gosto de me sentir mais um fazendo uma coisa que todo mundo tem feito, então acho que boa parte dessa busca desses discos novos é meio que um reflexo disso.

Você vem vivendo um momento de mudanças em vários aspectos, tanto pessoais, quanto da carreira; então acredito que o público esteja esperando diversos assuntos nesse disco novo. O que buscou imprimir?

Rimo muito sobre a atração daquilo que quero ter, mas também rimo bastante sobre o que tenho vivido. Todas as experiências que tenho tido antes desses dois ou três últimos anos pra cá, perdendo a minha mãe e o meu pai, mudança, comprar uma casa, construí-la, viver, sair do aluguel, fazer outras coisas que não podia fazer antes e, ao mesmo tempo, tudo de novo que vivo e sinto, acaba interferindo muito na minha composição e nas minhas músicas.

Não consigo soar muito como alguém de 2017 por tudo que vivi nesses últimos cinco anos, e vai de tudo, desde às derrotas, vitórias, coisas que a gente tem ouvido, ondas, experiências, vivências…

Tirando o disco Êxito, que foi feito um pouco ali no meio da pandemia, o resto é muito sobre aquilo que tenho vivido, então é muito mais experiências, convicções e mesma alma, mas com novas certezas.

Uma coisa que sinto que tem influenciado muito na minha música são as conquistas que tive e que passei, como disse, nesses últimos anos. Então, nada do mesmo de sempre, mas sempre com a mesma alma, tá ligado!? É um pouco disso.

O que agora, na Melhoria Music, acredita que tenha mudado na sua carreira?

A questão do selo era uma etapa inerente, iria acabar acontecendo em algum momento. Já me via dentro da Pirâmide Perdida não como alguém de fora, mas queria ter a minha vida ali dentro um pouco mais de independência e autonomia nos meus projetos, nas minhas coisas.

Só tenho agradecer a experiência, o aprendizado, as amizades. Tudo que consegui, boa parte do que tenho hoje, veio graças a Pirâmide e, ao mesmo tempo, foi algo que construí, junto dos meninos, mas tive diretamente uma importância nisso que foi feito para minha vida atualmente.

Melhoria Music era só mais um passo que eu já tinha planejado para minha vida, que eu queria colocar para frente, que me sentia na necessidade de ter um controle maior da minha vida e das coisas que eu quero e, enfim, acho que essa foi a grande diferença… mais responsabilidade, satisfação maior, ter uma liberdade para decidir minhas paradas.

Nada é cem por cento positivo, como nada também é totalmente negativo.

Você tem ficado cada vez mais próximo do público em questão de lançamentos e, ao mesmo tempo, apesar de toda a influência e corres na pista, não tem feito tantas apresentações, como nos grandes eventos e festivais que vêm acontecendo em expressividade neste momento pós-pandemia. Na sua opinião, qual o porquê disso?

É uma questão que tem mil teorias, algumas certezas, mas não gosto de ficar cojecturando muito isso, acaba demandando uma energia, sentimentos e pensamentos que não gosto, me afeta na produtividade e qualidade de vida. Tenho o objetivo que era dobrar meu catálogo em mais o menos um ano daquilo que já tinha trabalhado pela Pirâmide Perdida, uma coisa que quero construir, então meu objetivo maior é soltar bastante música porque é como falei, posso ter mil teorias e, se não tiver fazendo minha parte, vou ter essa certeza de que não tô fazendo o que tenho que fazer para poder reclamar.

Tenho uma relação com o rap bem complicada, hoje é parte daquilo que sempre foi. Nunca tive tantos convites assim, nunca fui tão inserido, até a gente criar o nosso movimento… o próprio festival da Pirâmide, shows da turnê e etc.

Sou modo sobrevivente no rap, tento não me afetar por coisas que podem me atrasar, querendo ou não, isso magoa um artista… o esquecimento, a falta de reconhecimento. Foco na minha filha, lembro do que gosto e do que tô fazendo, e estar pronto para quando me chamarem e pagarem o valor certo, a gente fechar.

Não é esperar os caras, mas acho também que vai gerar uma demanda. E acho que todos os festivais, com os mesmos lines e sonoridades, tem pessoas e o público também de fora, não só artistas, que acho que isso aí vai acabar algum corajoso, algum visionário, percebendo isso, já tenho falado isso com o Macedo… se tivesse um dinheiro a mais, tava trampando num festival lado B aí para a gente.

Naquele período de Pirâmide Perdida, até mesmo pela sintonia momentânea, você costumava estar sempre naquele ciclo musical. Agora, vem fazendo outras colaborações diferentes e acredito que prosseguirá neste novo disco. Sentia saudades disso? Como está sendo?

É uma coisa que na própria época da Pirâmide ali no Nandi, já buscava um pouco mais essa amplitude, mas o Nandi era um disco muito conceitual, com umas ideias muito fechadas, e acabou distanciando de alguns feats que eu poderia chamar.

Hoje em dia, na Melhoria, acho que a gente tem uma liberdade de conversar e trabalhar com certas pessoas, e a nossa maneira de construir músicas, discos…

Uma das coisas que mais tenho curtido são as novas participações, Nispey do Azul é um grande reflexo disso, e é daí pra cima.

Tenho uma vontade gigante de não parar, gosto de fazer música e tem sido prazeroso trabalhar com pessoas novas, uma energia diferente, conversar com pessoas que enxergam meu trabalho de uma outra maneira, um certo distanciamento é bom, porque aproxima de outra maneira.

A gente (Pirâmide Perdida) já estava ficando muito previsível em certo modo, mas não quer dizer que eu não vá fazer som com os moleques. Converso com o BK’, a gente tem som encaminhado, umas ideias. Com os outros meninos também… só amor. Acho que uma coisa que plantei nisso aí e tô colhendo até hoje é o amor, com todos os problemas e pacotes inclusos.

Percebo que você vem buscando estar longe do que afeta sua mentalidade e se aproximando de novas vivências/experiências. É um resultado que virá a longo prazo ou já está colhendo-o?

A pandemia me fez repensar muita coisa como pessoa, quem quero ser, como posso dentro daquilo que quero ser não atrapalhar o que eu precise de trabalho mas, hoje em dia, rede social é uma coisa que tem me cansado muito. Me sinto quase depressivo toda vez que tenho que lidar com rede social, não me faz bem. Tenho quase certeza que não sou o único.

Acontece que, para minha gestão de carreira, sei que isso possa atrasar em certos processos. Mas acredito muito na minha música.

Nessas músicas novas, pela quantidade de lançamentos, por aquilo que a gente tem abordado, já mostra muito dessa minha leitura mais madura de que me vejo com ser humano, não só como MC ou pai, e isso acaba refletindo muito em tudo, o quanto quero me desgastar por coisas que, como disse, em relação aos festivais.

Não adianta eu querer uma energia, desprender ela, sofrer com a decepção, enfim, com mil coisas que a gente tem expectativa e não acontecem. Então é melhor, não digo me isolar, porque isso também não é pra tanto e seria estúpido da minha parte, mas seguindo o meu caminho.

Tenho maior prazer de me relacionar com as pessoas que me relaciono, faço shows fodas, uma galera que cola, tem um público novo curtindo minhas músicas e isso me mantém vivo. É o meu plano, tem coisas que posso falar, outras, nem tanto. Tô dentro dele. Hoje em dia prefiro muito evitar certas energias e decepções previsíveis, pra depois não ficar reclamando comigo mesmo.

É boa parte disso, tô muito seletivo daquilo que quero.

Suas rimas sempre forneceram alta importância política por consequência daquilo que observava. Ainda (e em crescente) atualmente, nosso povo vem sofrendo muito na mão do sistema. Qual o recado que você tem nesse momento eleitoral e disso tudo que vem observando?

O que tenho é mais tempo de vida do que muita gente que tá no meio que eu trabalho, então, assim, às vezes a gente pode não ser bem sucedido, mas a experiência traz algumas certezas. Muito do que eu falo não é o que eu acho, é o que o tempo já me mostrou, são as cicatrizes, traumas.

É o lance da Lei Rua Neles, a gente falar algo que não é enxergado por uma certa falta de vontade de entender alguém que está passando uma visão de uma maneira que não tá sendo dita da forma como todos falam, mas tem a mesma essência e alma, ou não estão acostumados com a pessoa que está trazendo aquilo.

Rimo sobre muita coisa que muita gente rima, às vezes por ter falado alguma vez antes, durante ou depois, posso não ter sido entendido da mesma forma, mas a questão mesmo é do quanto você quer ouvir certas mensagens, não posso obrigar o público a entender o tamanho do buraco que a gente está se metendo se, ao mesmo tempo, a gente está tendo festival de rap a todo momento, fazendo parecer até que o rap tá bem, então é complicado falar sobre isso.

Não abrir mão da nossa importância dentro disso, entender o quanto é necessário alguém falar ou alguém fazer; todos fazerem um pouco, uns mais, outros menos; mas acho que, por omissão, não peca.

E é assim que a gente vai, rezando para ter uma eleição positiva para a gente, ou então se preparar para os quatro anos que estão vindo aí, e que serão bem complicados.

Mas vamos que vamos, novembro tem disco novo e tá uma pedra!

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