Entrevista: Thai Flow prepara grande show de estreia para o Festival Faixa Preta 2023

Escrito por Rodrigo Costa 11/09/2023 às 17:59

Foto: Divulgação
  • Facebook
  • WhatsApp
  • X (Twitter)
  • ícone de compartilhar

Thai Flow investiu todo o seu cachê do Festival Faixa Preta para a performance.

Nesta nova edição do Faixa Preta, que acontece no próximo dia 16 de setembro, na Praça da Apoteose – palco no Rio de Janeiro do maior carnaval do mundo e que, mais uma vez, recebe o rap nacional -, Thai Flow faz a sua estreia em festivais. Diante da significância deste show, a artista carioca nascida e criada na comunidade do Jacarezinho está preparando uma apresentação completa inspirada em seu último lançamento, o álbum ‘Paris Café‘, pretendendo contar uma história de sua carreira até chegar ao seu atual momento, de ascensão no cenário do gênero.

É fato que um show vai muito além de uma simples apresentação musical e o cenário montado é uma grande parte da história que será contada ao longo da performance. Para um desenvolvimento de sucesso nisso, a rapper, que pegou todo o seu cachê do festival e investiu em profissionais para entregar o melhor ao público, conta com uma super equipe de iluminação e efeitos especiais para protagonizar uma atmosfera de diversas sensações a cada música, além de figurinos em conexão com as faixas e coreografias.

Foto: Divulgação

Expectativa para o Festival Faixa Preta

Em entrevista exclusiva, Thai afirmou que está com uma expectativa muito grande. “Acho que nunca estive tão ansiosa para um show na minha vida, porque eu acho que, de fato, vai ser o meu melhor show até aqui. Com certeza existirão outros shows, mas, até aqui, tenho certeza que esse vai ser o meu melhor show. Mentalmente, tenho me mantido o máximo possível focada nisso, mas também tentado trabalhar em outras coisas para não ter crises de ansiedade e não deixar com que isso também atrapalhe o meu processo de diversão mesmo, de curtir executar tudo isso”, abriu-se ela.

“Acho que é a primeira vez que eu vou conseguir realizar de ponta a ponta um projeto que eu desejei, que eu idealizei. Desde as escolhas do figurino, as condições mesmo… Enfim, o tempo, o horário de show, tudo, tudo está fluindo a favor. Então, isso me deixa ansiosa, mas não quero que me deixe angustiada, sabe?! Só quero que as coisas fluam da melhor maneira possível, então tenho praticado exercícios, tenho feito terapia e tenho tentado me manter equilibrada para estar bem no dia”, completa.

Altamente feliz, ansiosa e com uma grande expectativa para sua estreia em festivais, a artista pontuou que nunca esteve tão ansiosa e alegre com a oportunidade que busca ao tempo. “Estar no line do Faixa Preta significa muito, porque é um line diverso de mulheres e me colocaram num horário muito bom também, o que eu acho muito importante, que, para além de ter nossos nomes no line, colocar a gente num lugar de oportunidade é o que a gente precisa para poder mostrar o que de fato a gente está pronto e preparado para poder fazer”, contou.

“Então, eu estou muito feliz e espero que o Faixa Preta abra portas para outros lugares, para outros festivais também e que eles entendam que a gente está pronto para poder entregar a altura ao nível do festival um grande show”, retrucou a rapper e atriz, que também comentou sobre o pouco espaço feminino na sociedade como um todo e, em reflexo disso, na cena do rap. “A minha percepção de integração é que eu acho que cada vez mais eles [homens] têm entendido que não tem como fingir que a gente não existe, que a gente não ocupa lugares fodas”, completou.

“Mas eu ainda acho que falta grana e acessibilidade pra gente competir com os caras que estão lá em cima, tá ligado?! Eu acho que quando o dinheiro chegar nas nossas mãos mesmo, tipo, aí esquece. Porque sobre talento, isso já é incomparável, imensurável. Existem mulheres muito melhores, existe muito mais diversidade. Ou igual, se não igual, sabe?! Enquanto mulher, enquanto homem. Se a gente olhar arte por arte, a gente vai ver que a gente tá na mesma equidade, sabe?!”, deu sequência.

“Mas eu acho que ainda existe uma desigualdade em questão à acessibilidade de grana. Falta a gente receber mais, cachês iguais aos caras… 100 mil, 200 mil, pra poder investir no nosso trabalho. Ou ter oportunidades, por exemplo, com investidores, gravadoras; pra que a gente realmente tenha condições de entregar trabalhos qualificados e competir. Em streams, em qualidade de clipes e tudo mais, sabe?! Eu acho que quando a gente tiver acesso à grana, aí sim a gente vai ter acesso a mais lugares, porque fingir que a gente não existe, não tem como mais”, finalizou.

Além disso, a MC, que se apresentará no palco ‘Baile‘ às 23 horas e 30 minutos, revelou que seus fãs podem esperar algo seu nunca visto antes. Aos que ainda não a admiram ou não a conhecem, afirmou que espera que estejam abertos a lhe conhecerem também. “É uma nova Thai Flow que acho que, de verdade, é mais intensa e é mais original”, promete ela.

Fotos: A Santos | Divulgação

Conceito e entrega

É nítido que a parte conceitual e a entrega artística são pontos que Thai Flow preza muito. Ao ser questionada, a artista respondeu os motivos por esta importância. “Acho que me preocupo tanto com a entrega da minha arte, do meu conceito impecável, porque eu vejo que hoje em dia a gente tem muitos artistas com grandes números, com grande visibilidade, com uma grande oportunidade na mão, mas que simplesmente não tem embasamento, conceito ou estética para poder entregar e entreter as pessoas que estão ali nos assistindo”, introduz o pensamento.

Na sequência, citou a influência de seus aprendizados com o movimento como parte de sua preocupação. “Acho que a gente trabalha com entretenimento, a gente trabalha com arte. Trabalhar com arte significa trabalhar com histórias, com coisas que marcam o coração e podem mudar a vida das pessoas. Então, eu me preocupo muito em fazer com que as pessoas sintam exatamente o que eu senti quando me encantei com a música, com o hip-hop.”

“Sei lá, acho que a arte pode transformar milhares de vidas e eu sinto que só trabalhando uma boa entrega, um bom conceito, com bom profissionalismo, eu vou conseguir atingir o máximo de público possível. Tenho quase nove anos de carreira, então, o que aprendi durante todo esse tempo é que quanto mais organizada, quanto mais íntegra, quanto mais cuidadosa eu for com a minha própria arte, mais duradoura ela vai ser. É por isso que eu me preocupo tanto com todos os minúsculos detalhes”, conclui.

Os produtores artísticos e executivos possuem uma suma importância na carreira da MC e atriz da Zona Norte do Rio de Janeiro, que destina uma grande atenção na escolha dos profissionais que vai trabalhar. “Significa muito para mim trabalhar com boas pessoas e escolher a dedos os profissionais que fazem parte da minha entrega, por várias razões.”

“Porque eu acho que quando a gente se dedica para um projeto específico, todos levam o mesmo nome. Então, é óbvio que eu tenho que me preocupar com quem leva meu nome, e é óbvio que eu devo me preocupar com quem eu vou me associar também”, apontou. Em seguida, retratou a sua busca humanizada.

“Então, além de serem bons profissionais, eu procuro pessoas que são compatíveis a caráter, a vida, a tudo… pessoas que vão me entender e me respeitar também enquanto pessoa, né. Porque não adianta a gente ter uma boa entrega profissional e ser cercada de pessoas que simplesmente não se importam com o meu lado humano, com o meu lado de vida mesmo.”

“Então, eu escolho a dedos todos esses profissionais, porque eu realmente acho que além deles serem qualificados profissionalmente, eles precisam ser qualificados enquanto vida mesmo, ser boas pessoas, porque quando o resultado vier, a gente também precisa saber com quem compartilhou a vitória”, anexa.

Foto: A Santos

Participação feminina no rap nacional

Já partindo para uma percepção da integração e aceitação das mulheres no rap na atualidade, ela revelou que, apesar da sua felicidade com espaço recebido para a estreia num festival, fica muito triste de saber que ainda existe essa observação de que existem poucas mulheres na cena. “Na verdade, somos muitas, somos tantas, com poucas oportunidades. Então, eu fico feliz de estar ocupando lugares que antes pareciam impossíveis para nós, mas fico triste por esse lugar ainda ser um lugar concorrido e não um lugar unânime, como é para os caras, sabe?!”, destaca.

“A gente não deveria ver como oportunidade, a gente deveria ver como algo normal e comum, mas não é. Ocupar esses lugares às vezes parece impossível. Então eu me sinto com uma grande responsabilidade e espero que muitas mulheres se vejam e sintam vontade de cada vez mais se manterem focadas no seu próprio trabalho, para ocuparem e acessarem lugares que a gente nunca acessou antes, sabe?!”, explica.

“Porque é nosso direito. E é isso, eu não busco ocupar e tirar o lugar de ninguém, eu só estou percorrendo o meu próprio caminho e eu quero que outras mulheres também façam isso, para que elas também ocupem lugares que elas merecem”, acrescenta.

Foto: Divulgação

A era do álbum ‘Paris Café’

Lançado em 2022, o álbum ‘Paris Café‘, de estreia da cantora, possui uma alta representatividade em sua vida e carreira. “A Era Paris Café fala sobre a minha vida inteira. Eu acho que é quase como um diário aberto de forma glamourizada. Então, eu acho que as pessoas ainda no Brasil não conseguem assimilar que linhas elas significam coisas, sabe?! Às vezes o que a gente viu, às vezes o que a gente sentiu, às vezes o que a gente de fato passou. E acho que ‘Paris Café’ significa uma ressignificação, sabe?!”, inicia.

“Faz com que eu entenda que para além de tudo aquilo que eu vivi, para além de tudo aquilo que eu compartilhei com vocês em cada música, em cada história que eu abria vocês, é uma ressignificação do tipo: ok, agora eu sou isso, agora eu faço arte, agora eu posso ser outras coisas, agora eu posso ser o que eu quiser ser. E é isso, esses são os meus motivos, mas eu não sou só isso, sabe?! Eu acho que Paris Café significa isso, significa uma mudança mesmo, significa, sei lá, uma quebra de maldição, talvez. Eu não sei. Mas, para mim, uma ressignificação enorme”, complementa.

Thai também aborda sobre as suas observações das reações do público nas apresentações do disco até dado momento. “Eu vejo que o público, em suma maioria, não entende o que aquilo significa, sabe?! Tipo, quando a gente vê os caras falando sobre crime, a gente vê que eles entendem perfeitamente e muitos até entram no personagem”, comenta.

“Quando a gente fala sobre prostituição abertamente, a gente não vê as pessoas assimilando de uma maneira ou positiva, ou tipo, enxergando aquilo como de fato uma realidade. Porque parece que as pessoas na vida real fingem que isso não acontece, sabe, nas ruas. Então, quando eu falo disso abertamente, de certa forma glamourizada, ou de certa forma sem tabu nenhum, as pessoas ficam um pouco chocadas e impactadas”, responde.

“E eu também vejo muitas meninas se reconhecendo, pedindo gratidão e falando sobre porra, por que eu nunca vi isso em lugar, sabe? Mas elas ainda também sentem vergonha, talvez, de ocupar esse lugar ou de falar disso abertamente. Por isso que eu sinto que Paris Café é uma responsabilidade enorme e eu sinto um grande peso sobre esse disco, sobre essa arte, por isso também que esse show significa muito para mim. Porque vai ser a primeira apresentação que eu vou conseguir entregar 100% o que é a Paris Café, em luz, em look, em danças, em performance, em tudo. Por isso que eu estou muito ansiosa”, finaliza.

Foto: Divulgação

Trajetória

Conhecida no cenário do rap nacional como Thai Flow, Thaina Denicia, de 25 anos, iniciou a sua história na música em 2015 em batalhas de rimas, onde conquistou títulos e fez amigos. Com traços artísticos desde os 9 anos de idade, quando já escrevia poemas, a atriz e artista independente que gerencia sua própria carreira, ao longo de sua trajetória, passou por momentos em que foi preciso viver em situação de rua e também foi garota de programa. Entretanto, ela não tem vergonha de comentar sobre o seu passado e gosta sempre de ressaltar sua luta para se consolidar como artista.

ícone

Recomendados para você