NBAdasMina: Racismo, misoginia e homofobia, uma semana em que a NBA mostra que suas punições têm asteriscos

Tida como "progressista", NBA veste um adjetivo que não é seu

As “punições” a Robert Sarver e o silêncio da NBA sobre o comportamento de Anthony Edwards nos lembram que o progressismo dentro da Liga não tem nada a ver com ela própria

A fama de uma Liga “progressista” cai bem para a NBA. É sempre bom ter uma imagem que traduz preocupação com questões sociais e que impactam a sociedade, afinal, o basquete não se limita às quatro linhas, à bola laranja e ao resultado do jogo. Mas, ela veste uma fama que não é sua. Não é de hoje que jogadores mexem com a estrutura da Liga. A história da NBA foi moldada por ações importantes de atletas que travaram batalhas duras para torná-la o que é hoje. Mas, ainda assim, está longe, muito longe de ter o progressismo que atrelam a ela.

Enquanto jogadores puxam manifestações, invadem as ruas para lutar por igualdade, utilizam suas plataformas e suas imagens para colocar foco em discussões que impactam diretamente a vida de milhares de pessoas, a NBA se apequena e surge, em situações pontuais, com “punições” que estão longe de chegar sequer próximo das ações que as motivaram.

Exemplos temos aos montes e dos mais variados casos. A lista de jogadores acusados de estupro, assédio sexual e violência doméstica só cresce na mesma proporção ou até maior do que os salários que eles recebem. Um dos últimos foi Miles Bridges, preso por violência doméstica. A ação da NBA? Silêncio. E é apenas um dos recentes.

Na última semana, Robert Sarver, dono do Phoenix Suns e do Phoenix Mercury foi punido após inúmeras denúncias de racismo e misoginia na franquia ao longo de 18 anos. E-mails, mensagens, vídeos, 80 mil documentos e 320 testemunhas. Tudo isso e a punição se limitou a um ano de suspensão e uma multa de US$ 10 milhões, o que para um milionário como ele, não significa nada.

Dono do Suns e do Mercury, Robert Sarver foi acusado por vários funcionários e ex-funcionários

Apesar de vir à público e fazer declarações oficiais reprovando o comportamento de Sarver descrevendo as conclusões da investigação como “preocupantes e decepcionantes”, Adam Silver foi brando. Os crimes foram cometidos continuamente durante quase duas décadas e Sarver recebeu um ano de suspensão, quase um ano sabático e, depois, pode voltar a frequentar os ambientes da NBA e da WNBA e a comandar suas franquias como se nada tivesse acontecido.

Jogadores criticam postura da Liga

A falta de efetividade da NBA motivou críticas de seus principais jogadores. LeBron James se manifestou dizendo que a Liga “não entendeu da forma correta. “Eu amo esta liga e respeito profundamente nossa liderança, mas isso não está certo. Não há lugar para misoginia, sexismo e racismo em qualquer local de trabalho. Assim, não importa se você é o dono do time ou jogador. Enfim, mantemos nossa liga como um exemplo de nossos valores, e este não é o caso”, escreveu.

Chris Paul, um dos jogadores mais atuantes e presidente da NBPA (National Basketball Players Association) de 2013 a 2021, também deixou evidente seu descontentamento com a sanção branda aplicada à Sarver.

“Fiquei e estou horrorizado e decepcionado com o que li. Esta conduta, especialmente em relação às mulheres, é inaceitável e nunca deve ser repetida. Tenho a opinião de que as sanções não foram tão rígidas quanto deveriam ser, de realmente abordar o que todos podemos concordar que foi um comportamento assustador”, declarou.

A NBA anunciou a punição mais com o objetivo de mostrar que age do que para, de fato, coibir o racismo e a misoginia. O mesmo aconteceu, acontece e continuará acontecendo nos casos que se multiplicam de jogadores que estupram, assediam e agridem mulheres.

Uma liga que se veste de progressista, mas que na verdade, se apropria de uma qualidade que é exclusiva de seus jogadores, técnicos e pessoas envolvidas. Alguns, é bem verdade.

Anthony Edwards publicou e apagou vídeo em que faz comentários homofóbicos

Na mesma semana em que “puniu” Sarver, silenciou sobre a atitude de Anthony Edwards, escolha número 1 do draft de 2020. O ala do Minnesota Timberwolves publicou um vídeo em que gravava um grupo de homens na rua e fazia comentários homofóbicos. Ele excluiu a publicação e escreveu um pedido de “desculpas”. Além dos comentários homofóbicos, Edwards utilizou um termo racista na gravação.

A atitude da Liga? Mais uma vez, silêncio. E quando se manifestar, se é que o fará, deve aplicar uma multa, como já fez com Kevin Durant neste ano. Afinal, para a NBA tudo se reduz a dinheiro, não importa o quão nocivos, tóxicos e criminosos sejam os atos de quem quer que seja.

Texto: Drika Evarini

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