Em 20 de maio de 2015, o grupo Nectar Gang chegava às ruas com o projeto extenso de estreia do trio de MC’s (BK’, Bril e CHS) e o produtor musical/beatmaker JXNV$, a mixtape Seguimos Na Sombra.

Dentre ela encontra-se a KGL, faixa que mais teve ascensão da tape. Isso se trata por, basicamente, ser um pedaço do coração do grupo em forma de single. Ali está explicitamente e abertamente a maioria das visões momentâneas de cada integrante, suas ambições, vivências e, intitulado-a, a sigla dos três bairros no Centro do Rio de Janeiro em que se dão os rolés da rapaziada do Bloco Sete; Catete, Glória e Lapa.

KGL traz um clima bem para cima e tem o poder de te contagiar a qualquer momento que você ouça, devido aos versos sujos e o beat ritmado — quando, em qualquer lugar que seja, surgir aquele sample agitado, se afaste ou prepare-se para o bate-cabeça, pois chegou a hora de quebrar tudo. Num show no Viaduto de Madureira, o público deixou os baldes de cerveja como exemplo.

E, falando sobre o sample, merece nossa devida atenção e apreciação, pois levou quase 7 anos para ser descoberto — inclusive, por esse aqui que vos escreve. Vou então contar como foi essa experiência.

Gosto de fazer pesquisas e descobrir assuntos musicais novos, tanto daquilo que é atual, tanto, e principalmente, daquilo que é antigo e que nos possibilitou estar onde estamos atualmente. Se temos o boombap hoje, é porque alguém, lá atrás, criou o bumbo e a caixa. Com isso, vocês já devem ter percebido que gosto bastante da cultura de utilização de sample, que é também uma forma de vangloriar e manter vivos aqueles que possibilitaram a nossa chegada no atual cenário musical. Seja porque curtiu o trecho sampleado, porque curte e quer citar aquela pessoa sampleada, ou os dois.

Eu estava ouvindo algumas músicas clássicas e o algoritmo da plataforma me indicou War Of Nerves, do John Scott. O nome me impactou, admiro o compositor, então decidi ouvir. Nos primeiros segundos, já não me restavam dúvidas de que tinha achado uma pérola, o sample da KGL. Sou quem está por trás da página Sigo Na Sombra, logo, fui escrever o mais rápido possível um conteúdo para revelar aos outros fãs que também estavam há anos procurando e talvez tinham até desistido.

Portais começaram a repassar a informação, artistas (como os próprios integrantes do Bloco Sete) e outros usuários também não paravam de comentar sobre, e assim foi durante longos dias em êxtase.

Ao perceber a finalmente descoberta, Jonas Profeta revelou que achou o single numa loja de discos na Lapa, como sempre fez, curtiu o instrumental e sampleou. “Até que enfim, merece até sair na Rap Mais”, brincou o rapper e produtor musical, e hoje estou aqui.

https://twitter.com/SigoNaSombra7/status/1412168366190641153?t=FfSK6g58KSYH_tPw-8qJJA&s=19

Outro ponto que talvez explique o tamanho em que essa faixa se tornou, é que o Nectar sempre foi rotulado como trap, e a KGL é o único trap de fato da Seguimos Na Sombra.

Tal rótulo soa nada menos que preconceituoso, visto que, como citado, a até então única mixtape lançada pelo grupo contém apenas um trap, e a maioria das faixas são boombap’s (carro-chefe do rap).

Mas, então, de onde vem esse preconceito? Olhando para a essência do Bloco, conseguimos enxergar a resposta para essa pergunta. Sempre foram originais e ditaram seu próprio jeito de viver e se vestir. Não ligavam para a maneira que seriam vistos ou rotulados, viviam em sua essência. Com isso, uma galera mais conservadora da cultura Hip-Hop — palavras cujo significado não se encaixam, é tipo o seu tio bolsominion fã dos Racionais MC’s — deram essa rotulação ao coletivo.

Para estes e para esta forma conservadora de pensamento, na mesma faixa citada, BK’ diz:

“Então vamo analisar
Tudo que é novo sempre vai assustar
E tu percebe que nada é tão precioso que aconteça só uma vez
Desapareça ou trate de se adaptar”