Nike arrecada R$24 bilhões com campanha antirracista apesar de boicote

Escrito por Fellipe Santos 25/09/2018 às 16:30

Foto: Divulgação
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Empresa alcança seu maior valor histórico na Bolsa poucos dias depois do lançamento do anúncio protagonizado por Colin Kaepernick.

Enquanto boa parte da população mais conservadora dos Estados Unidos imortalizava em vídeo o momento em que colocava fogo em seus tênis Nike em sinal de boicote, os investidores da bolsa viam como seu dinheiro inesperadamente aumentou. O valor da empresa na Bolsa subiu 5% desde o lançamento do anúncio protagonizado pelo jogador de futebol americano e símbolo antirracista Colin Kaepernick, de acordo com a informação publicada pele rede de televisão CBS.

Esse ganho, traduzido em seis bilhões de dólares (24 bilhões de reais) em apenas três semanas, significa um número recorde às ações da multinacional, que alcançaram seu nível máximo histórico nos dias posteriores à estreia da campanha promocional do 30° aniversário do lema Just Do It. O feito é especialmente significativo se levarmos em consideração que nas horas posteriores à estreia do anúncio os investidores entraram em pânico, fazendo com que o valor da empresa caísse 3%. O presidente Trump, inimigo reconhecido de Kaepernick, afirmou que a campanha enviava uma “mensagem terrível” e que a Nike estava sendo “absolutamente destruída com fúria e boicotes”. “Eu me pergunto se imaginavam que algo assim aconteceria”, publicou no Twitter. O poderoso magnata imaginava que a campanha conseguiria tamanho sucesso na Bolsa?

O incalculável valor da exposição midiática gratuita colhida pela empresa pelo anúncio prova o acerto da estratégia. Os investidores a longo prazo estão descobrindo o filão que significa a contratação de uma figura tão midiática como Colin Kaepernick e não deveríamos estranhar se mais empresas introduzirem aspectos políticos em suas próximas campanhas.

O quarterback de 30 anos, que fez sua carreira esportiva no San Francisco 49ers da NFL, foi o primeiro jogador a se ajoelhar durante o hino nacional em sinal de protesto pela brutalidade policial e a opressão da comunidade afro-americana. O atleta não disputa uma partida desde 2016, processou a liga por crime de conspiração para impedir sua contratação e se transformou em um símbolo da luta antirracista, admirado por defender seus ideais mesmo que signifiquem o veto profissional.

Em 3 de setembro, dia do trabalhador nos Estados Unidos, a Nike lançou uma campanha com o rosto do desempregado Kaepernick e uma frase que dizia o seguinte: “Acredite em algo. Mesmo se isso significa sacrificar tudo”. Dezenas de seguidores de Donald Trump responderam ao anúncio queimando seus materiais esportivos e a hashtag #BoycottNike se transformou em Trending Topic. O barulho nocivo, entretanto, deu lugar a uma maciça onda de apoio da qual participaram estrelas como Serena Williams e LeBron James – muito significativos politicamente e parte do spot televisivo que completa a campanha. O rosto do atleta passou a estar nos painéis publicitários de boa parte do país e as vendas na loja online da Nike aumentaram em até 31%, o dobro em relação ao mesmo período do ano anterior.

Não se sabe qual é a porcentagem desse recorde multimilionário na Bolsa que a empresa teria repassado a Colin Kaepernick por royalties, mas quando o acordo foi anunciado alguns veículos da imprensa especularam com a possibilidade do cheque chegar a sete cifras.

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