O que mudou na vida dos negros após 21 anos do álbum clássico dos Racionais?

Escrito por admintemporary 20/11/2018 às 19:21

Foto: Divulgação
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Exatamente 21 anos atrás o grupo Racionais Mc’s lançava o álbum “Sobrevivendo no Inferno” que se tornou um marco da música brasileira, virou livro e se tornou leitura obrigatória para o vestibular 2020 da Unicamp. Com letras fortes sobre o cotidiano da periferia e presídios de São Paulo, o disco vendeu mais de um milhão de cópias e ganhou prêmios e clipes marcantes como “Diário de Um Detendo”, que narra a história do massacre do Carandiru por meio das memórias de um presidiário. Como todo mundo sabe, hoje é o dia da consciência negra, mas o que mudou na vida dos negros após 21 anos do disco clássico?

A BBC News Brasil foi atrás dos dados, verificando pesquisas e dados públicos para entender aquele cenário descrito nos versos das músicas do Racionais e ver se ele ainda continua o mesmo. Confira abaixo a pesquisa feita pela BBC que tem todos os créditos da matéria.

 

“A cada quatro mortos pela polícia, três são negros”

Em Capítulo 4, Versículo 3, os Racionais dizem que, nos anos 1990, a população negra era a maior vítima da letalidade policial. Segundo a letra, três em cada quatro mortos pelas forças de segurança eram negros.

O índice permanece o mesmo 21 anos depois do lançamento da música.

Recentemente, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública analisou 4.254 registros de boletins de ocorrência de mortes decorrentes de intervenções policiais entre 2015 e 2016, o que representa 78% do universo dos casos no período.

“A cada quatro horas, um negro morre violentamente”

A música dos Racionais afirma que, a cada quatro horas, um jovem negro morre violentamente em São Paulo.

Na época em que ela foi composta, no final dos anos 1990, São Paulo vivia um período mais violento do que o atual – pelo menos em termos de assassinatos.

Naquele ano, a taxa de homicídios no Estado era de 36 casos para cada 100 mil habitantes, segundo o Atlas da Violência, levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Em 2016, esse número foi de 10,88 – uma queda 69% em 21 anos.

Segundo dados do DataSUS, do Ministério da Saúde, 749 jovens negros (de 15 a 24 anos) foram vítimas de homicídio no Estado de São Paulo em 2016. Ou seja, 2,05 pessoas por dia – 0,34 a cada quatro horas, número bastante menor que o cenário da música.

 

“Nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros”

Entre dados citados na música, o único que reflete avanços na inclusão de negros é o que fala de acesso ao ensino superior. Na letra, o rapper Primo Preto diz que “nas universidades brasileiras apenas 2% dos alunos são negros”.

Segundo o IBGE, em 2015, o dado mais recente disponível, 30% das pessoas com nível superior completo eram pretas ou pardas (5.424.514 pessoas). Os brancos representam muito mais – 68% do total (ou 12.450.621).

O percentual de negros com nível superior quase dobrou entre 2005 e 2015, fruto da política de cotas implantadas em universidades públicas e programas de bolsas e financiamentos para estudantes pobres, como Prouni e Fies.

Em 2005, 5,5% dos jovens pretos ou pardos em idade universitária frequentavam uma faculdade. Dez anos depois, eram 12,8%. Apesar desse avanço, o número está muito aquém do da população branca, que subiu de 17,8% para 26,5% no mesmo período.

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