O rap numa trilha duvidosa

Escrito por Vinicius Prado 22/02/2018 às 18:36

Foto: Divulgação

Estamos em um cenário complicado no Brasil. Politicamente, economicamente e socialmente falando. Nenhuma novidade até aqui. Mas a polarização do país chegou ao rap.

Qualquer um que conhece as raízes do movimento sabe que ele foi muito repreendido pela burguesia conservadora e pela mídia (considerando o fato que surgiu logo após o fim da ditadura no Brasil). O papel do rap sempre foi muito bem definido: denunciar as mazelas sociais, colocar o dedo na ferida, incomodar quem deve ser incomodado. Mas não dá para ignorar o fato de que o rap atingiu outras camadas da sociedade e com isso, criou-se a liberdade para que outros temas também fossem abordados.

A questão é: o que é taxado como coisa de esquerda é o combate à desigualdade social e racial, luta contra o racismo, a conscientização acerca do feminismo e de causas sociais. O histórico do hip hop é baseado em luta diária. Luta essa que prega o respeito e principalmente, a consciência de classe.

Está circulando na internet uma música de um “MC” que se intitula reaça. O termo é utilizado para designar os conservadores. Ou seja, tudo aquilo que sempre foi contra os ideais do hip hop. De repente, o opressor resolve cantar contra isso tudo, em apoio à Olavo de Carvalho, Bolsonaro, partidos políticos de direita, à polícia e a pátria. Parece piada. Mas é mais sério do que imaginamos. É uma tentativa de destruir anos e anos de história e colocar o povo contra o povo.

Acerca disso ainda há os que defendem que manifestar essas ideias faz parte da liberdade de expressão. Entretanto, não passam de uma anomalia que surgiu no campo político e migrou para a música. Essas ideias devem ser combatidas porque passar pano para homofobia, racismo, desigualdade social com a desculpa de liberdade de expressão nada mais é que compactuar com isso. Talvez você não tenha coragem de atacar uma pessoa por ela ser negra, gay ou seja lá o que for, mas ao propagar ideias que desrespeitam a vida desses grupos, isso vai chegar em alguém que tenha coragem de atacar. O fascismo não é uma “opinião diferente”. É uma cultura de ódio que colabora para manter uma sociedade opressora em que minorias apanham na rua.

Boa parte dos seguidores de políticos conservadores aplica o velho discurso de que “bandido bom é bandido morto”. Eles sequer têm noção de que uma das principais virtudes da cultura sempre foi o de regenerar pessoas que cometeram crimes? Que poder o “rap de direita” teria de salvar vidas como sempre fez? O propósito dessas pessoas é recriar o hip hop para beneficiar e privilegiar quem sempre teve isso durante a vida toda? Qual o sentido disso? Voltem para o que faziam até descobrir que poderiam esbravejar os ideais de vocês com rimas. Rimas, não rap. O rap está muito acima disso. Se não suportam a ideia de escutar quem prega igualdade, nunca entenderão nossa cultura.

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