OKURRR: De stripper ao Grammy, invadindo a privacidade de Cardi B

Escrito por Fellipe Santos 12/02/2019 às 21:04

Foto: Divulgação
  • Facebook
  • WhatsApp
  • X (Twitter)
  • ícone de compartilhar

Mulher, latina e rapper. Cardi B traz uma combinação explosiva para derrubar várias barreiras, inclusive se tornar a primeira mulher solo a ganhar Grammy como melhor álbum do gênero.

“Look, I don’t dance now, I make money moves” (Olhe, Eu não danço agora, eu faço dinheiro mover). Esse é um trecho de “Bodak Yellow”, música que fez Belcalis Almanzar estourar no meio musical. Muitas pessoas questionaram o fato dela ter vencido o prêmio de Melhor Álbum de rap do Ano, com “Invasion of Privacy”. Pois não devereiam! Competindo com Mac Miller, Nipsey, Pusha T e Travis Scott, ela já vinha de recordes como ter se tornado a primeira rapper a ter três faixas como 1º lugar na Billboard Hot 100. Tudo graças a “Bodak Yellow”, “I Like It” e “Girls Like You”.

“Invasion of Privacy” é um álbum forte, direto e reto. Lançado em abril de 2018, o trabalho mostra que ela é uma mulher que expressa qualquer pensamento que vêm em sua cabeça, seja sobre o tempo que era stripper ou sexo com seu namorado. Mas há uma energia e paixão envolta de suas músicas que transformam seu discurso em algo incrivelmente sincero. Ela parece tão honesta quando diz ser grata pelo apoio dos fãs ou quando direciona sua voz contra os seus inimigos. Com uma narrativa voltada para o discurso de liberdade sexual de uma mulher preta de origem humilde, “Invasion of Privacy” sabe explorar o potencial de Cardi B tanto como rapper, como pessoa. O disco é bem diversificado nas batidas, criativo nos arranjos e com letras que vão na jugular ao estilo Cardi, mandando a real para diversos alvos, de homens que não aceitam baixar a bola a desafetos que a desacreditaram Mesmo que às vezes saia dessa temática, como em “I Like It”, é um disco que faz por merecer seu destaque na qualidade de produção, no diálogo com as tendências.

Há muitas razões pelas quais “Bodak Yellow” fez sucesso em 2017, afinal é uma música de grande qualidade. Tanto que ficou três semanas consecutivas no topo da principal lista de singles da Billboard, desbancando a cantora Taylor Swift do Hot 100. Com o primeiro lugar, ela se tornou a segunda rapper a liderar as paradas com uma música solo em quase 20 anos. A última que alcançou este patamar foi Lauryn Hill, em 1998. Mas provavelmente a maior razão foi a entrega impetuosa da própria Cardi.

Com 13 faixas, o álbum conta com excelentes participações como 21 Savage, Migos Chance the Rapper, Kehlani e SZA. Suas raízes do Bronx faz dela uma pessoa orgulhosa e autêntica.

Agora falando por fora da música. A vida não poupou obstáculos para Cardi B. Antes da fama, aos 19 anos, ela resolveu morar com seu namorado da época e aí começaram os problemas. Dentro de um relacionamento abusivo e sofrendo violência doméstica, a artista se esgotou e resolveu dar um rumo diferente a sua vida trabalhando num clube de stripper.

“Não me arrependo do meu passado, pois essa experiência salvou a minha vida”. Em entrevistas, ela conta que o salário alto a ajudou a conquistar confiança para se mudar do apartamento que dividia com um namorado agressivo.

A fama veio por conta dos vídeos que publicava no Instagram e no Vine. Nas postagens, Cardi B não tinha problema algum em falar honestamente sobre suas cirurgias plásticas, sua sexualidade e seu desejo por dinheiro e fama. A franqueza lhe rendeu vários seguidores e curtidas.

Em uma safra com tão poucas representantes no rap, Cardi B é um nome a ser celebrado. Consegue estar presente em espaços muito ligados aos seus colegas masculinos, caso do gangsta rap, mas adicionando toques inovadores. Bastante influenciada pelo rap old school dos anos 90, seu flow é bem raçudo, preciso e direto como se saísse de uma batalha de rimas.

Por tantos marcos, Cardi B merece ser celebrada, mas sua presença vai mais além: ela tem a relevância cultural para mudar paradigmas dentro do hip hop. Que sorte a nossa de termos a Cardi.

ícone

Recomendados para você