No último dia 26 de Outubro o rapper FBC liberou seu aguardado álbum “S.C.A.”, o projeto é o segundo disco solo do rapper e segue o disco “C.A.O.S.” lançado há 5 anos. Fabrício FBC ganhou destaque no Duelo de MC’s e começou a despontar no cenário nacional com coletivo DV Tribo e participando de Cyphers, além de ganhar destaque em colaborações, o rapper tem 29 anos e dedicou 15 exclusivamente ao Hip Hop.
“Ele (O Hip Hop) chegou até na minha casa por uma fita k7 de “Sobrevivendo no Inferno”, ouvindo ali com meu irmão mais velho uma passagem me chamou atenção, a faixa “Gênesis” quando o Brown fala que tem uma bíblia velha e uma semi automática e está tentando sobreviver no inferno, acho que foi ali que a faixa contradições surgiu” explicou. “Foi ali que o hip hop me chamou, Alguns anos depois alguém me disse que eu era bom no freestyle já que conseguia fazer paródias de maneira muito fácil e natural. Colei no duelo de MC’s e entendi que o hip hop é a cultura e o rap a música feita por um elemento, essas coisas que fazem de você um mc, bboy, DJ ou grafiteiro, que é o entendimento do “fazer parte” acho que esse foi o ponto alto da minha caminhada, entender que o hip hop é foda”.
O artista mineiro trouxe um álbum recheado de referências com músicas que falam sobre ambição, sucesso, celebração, dinheiro, dificuldades, mulheres e Drogas. Para desenvolver os instrumentais para seu projeto, FBC trouxe seu amigo e produtor de longa data Dj Spider, que ele conhece desde seu 15 anos.
“Conheço o Spider desde sempre, já fazem 15 anos, ele sempre foi referência em BH, produziu a faixa “não duvide”, esse mano nasceu pra isso.”conta. “Nosso primeiro trampo juntos foi em um feat que fiz pro primeiro cd do “das quebradas” a muito muito tempo, a estrutura da Pro Beats me chamou a atenção, foi ali que entendi que a música necessita de trabalho pesado dedicação e tempo.”
“Ele (Dj Spider) me ensinou isso é consequentemente a todos nós da cena em BH, junto com o Rafael e o Fernando ele foi trazendo a ideia do disco da capa daquela nossa vivência ali no estúdio pra dentro dos beats ele teve as ideias dos interlúdios serem o que são e o lugar onde eles deveriam aparecer, DJ Aranha é foda” finaliza FBC.
Além de Spider que produz todas as 10 canções do disco, Fabrício FBC também trouxe Coyote Beatz, Oculto Beatz, niLL e Disstinto – que dão alguns toques em algumas produções. Nomes como Chris MC, Lord ADL, Doug Now, Hot e Djonga também aparecem no projeto que é dividido em dois lados – o A com 6 faixas e o B composto por 4: “Mano, essa é a ordem perfeita. Ali é quando o ouvinte senta no sofá e pensa: “Caralho, que álbum foda”
Você pode ouvir o S.C.A em todas as plataformas de Stream, o projeto conta com a produção de Raffael Barra e FBC enquanto a capa ficou por conta de Raffael Barra e Lefty Joe.
Confira abaixo a entrevista completa que fizemos com FBC.
ENTREVISTA COM FABRÍCIO FBC
RAP MAIS: Como foi o processo criativo do álbum “S.C.A.”? E qual a proposta que você quis trazer para cena com ele? Existem faixas que já tinham sido gravadas a muito tempo?
Foi um processo que durou nove meses, sim foi uma gestação de um filho com vários pais e mães, eu tinha acabado de voltar de uma depressão profunda que digo aqui que a faixa hip hop real me ajudou a reverter esse quadro, vários elogios por um som que eu acreditava ser um dos meus piores até hoje, é, vai entender a cabeça do artista mc. Aí um dia na casa do Paco, estávamos Coyote eu ouvindo beats, foi quando ele pos o beat de S.C.A., foi instantâneo, foi ouvir e fazer o refrão, esse mesmo refrão gritado em um apartamento da zona sul as três da tarde, “SEXO COCAÍNA E ASSASSINATOS, SEXO COCAÍNA E ASSASSINATOS, SEXO COCAÍNA E ASSASSINATOS” 4 meses depois pediram o ap ao meu amigo Paco.
Porém o som que me fez querer gravar o disco foi “17 anos e um 38”, outro dia na casa do Coyote ouvindo alguns sons eu ouvi um som que me chamou a atenção Idk feat chief keef – “17 whit 38”, cara era a ideia que eu estava na cabeça, na atual conjuntura política, eu queria zoar todo mundo, esquerda e direita não importa eu queria zoar os boys de esquerda e os pobres da direita, queria abordar temas como racismo, violência urbana, maioridade penal e a fatídica questão das armas, é o refrão veio na minha mente como uma bomba,
“17 anos e um 38
17 anos e um 38”
Mano era aquele sentimento que eu estava sentindo, como eu queria ter o poder de resolver as coisas sabendo que de certa forma não daria nada pra “nois”. Foi certeiro, escrevi a letra naquele dia de madrugada e no outro dia eu já estava gravando uma guia, mandei a guia pro Gustavo ele me ligou na hora incrédulo,” é isso mano! Esse com certeza é seu melhor som”, não tive tempo de respirar quando alguém me liga, quem? Don Cesão, com o som de fundo, 17 anos e um 38 muito alto, me dizendo que era isso! Eu deveria gravar um EP com cinco faixas e lançar rápido, ninguém imagina que dali nasceria esse álbum já que a ideia inicial eram apenas 5 músicas, carai, a vida é loca…
RAP MAIS: Seu disco vem tendo uma boa recepção do público, muitas pessoas tem elogiado seu trabalho e declarando ser um dos melhores do ano. Você tem acompanhado essa resposta do público de perto? Ou prefere não se ligar muito na opinião pública?
Cara. O público me trouxe até aqui, eu respondo todo mundo, na medida do possível e se no caso de meu disco seja o álbum do ano eu sei que foi por que eu trabalhei pra isso durante nove meses eu trabalhei pra isso, espero que esse álbum tenha o reconhecimento que merece.
RAP MAIS: Dentre os discos que foram lançados no rap ultimamente, o que você acha que fez do S.C.A ter um impacto maior? E o que traz de diferente e mais marcante para o cenário?
Acho que foi o conjunto da obra. A capa foda feita pelos meninos da paralaxe, o trabalho de captação do Spider que é perfeito e isso se estende pra mix e master que por sinal foi tudo analógico, a diversidade de beats e temas e o mais importante, eu trouxe a minha realidade ali, minha verdade, eu consegui transmitir o sentimento de uma época, a vivência não só minha mas sim de uma geração, creio eu que minha história deu base pras pessoas tirarem essa conclusão, emfim S.C.A foi algo original, um trabalho coeso e atual e olha que musicas como “Superstar” e “Contradições” eu já tinha a mais de dois anos escritas em algum caderno velho Na minha casa.
RAP MAIS: Como surgiu a ideia da capa do projeto em homenagem a banda de Death Metal Sarcófago?
Rafael Barra: Hum, ontem a editora do Estado de Minas, Ângela Faria, publicou no caderno de cultura: “ele presta tributo ao underground mineiro”. É verdade. Em 2017 o Fabrício tinha brigado comigo, no fim do ano mandei umas mensagens pra ele cobrando um disco (nem sei explicar porque), ele não respondeu, mas recebeu!
Na época que saiu o debut do Djonga, eu tava mais focado em fotografia, assim como o Fernando. Nós sempre discutíamos sobre fotojornalismo e eu entupia ele com observações sobre montagem, algumas coisas menos conhecidas, outras do mainstream, é claro que a capa do Gustavo também foi tema dessas discussões.
No ano anterior havíamos passado meses comparando trajetórias de bandas de metal a carreiras de artistas distintos do rap, falávamos sempre da Cogumelo Records, do documentário “Ruídos das Minas” que retrata a trajetória das bandas Overdose, Sarcófago, Sepultura, Chakal, Witchhammer, Sextrash, Holocausto, Mutilator, Kamikaze, todas nascidas em Belo Horizonte.
Em fevereiro desse ano o Fabrício apareceu na minha casa com a guia de “Sexo, Cocaína & Assassinatos”, gravada pelo Coyote. Chamei meu futuro ex- parceiro de trabalho lá em casa, o FBC chegou umas 2 horas depois agitado, nesse dia surgiu o S.C.A. EP, que teria 5 tracks: Sexo, Cocaína & Assassinatos, Superstar, uma composição de uns 7 ou 8 anos atrás chamada “Ela é Green” e mais 2 músicas que ele ainda estava afinando na cabeça. O Fabrício é um cara jovem que já tem 15 anos de música, passou pelo rock assim como nós, ainda no início do ano ficou meio óbvio qual seria a capa.
RAP MAIS: O rap de BH vem ganhando muita força no cenário nacional, quebrou o monopólio do eixo Rio-São Paulo e você faz parte disso. Isso demorou a acontecer? O você RAP MAIS:acha e como se sente sobre isso?
Orgulho é o que eu sinto quando ouço o Sidoka, recompensado quando vejo a Clara Lima quebrando nas barras, preocupado quando vejo que fora o Douglas Din que ganhou duas vezes o Duelo Nacional o título não vem pra Minas faz tempo… Eu tava la, 15 anos atrás vendo o Arezona o Kontrast o retrato radical ta ligado?E vamos estar ai pra sempre, são outros tempos, outras ideias, outro rolê… O rap de BH sempre foi forte, praticamos/vivemos a cultura desde 78 a registros que comprovam isso,BH canta e dança, Os “repi” no consulado, O duelo de mcs… Eu tava la. Douglas Din, Vinicão, Crizin, Well, Harley, PP, Barbara Sweet, Kdu dos Anjos, Inti, Leytin, Prata, carai mano e muito mano e mina bons no que entregam a cultura, Era natural acontecer, Demorou mas aconteceu.. Veja nossos trampos solo, Sigam nossas redes sociais, Se tivessem feito isso antes não se assustariam tanto
RAP MAIS: Existe alguma faixa que você considera o ponto alto no disco?
8 • Contradições, essa é a música que não iria entrar no álbum… Ali depois de “Itinerário”As pessoas já começam a track com água nos olhos O CD se divide ali em dois:
LADO A
Frank & Tikão
Não Duvide
Rap Acústico
17 Anos
Superstar
Ela é Green
LADO B
Itinerário de I.O
Contradições
Sexo, Cocaína & Assassinatos
Poder Pt. 2
Mano e a ordem perfeita, Ali e quando o ouvinte senta no sofá e pensa: “Caralho que álbum foda”
RAP MAIS:E agora, quais são seus próximos passos? Turnê, vídeo clipes… O que prepara para seus fãs?
Vou fazer vídeos de todas as faixas, Tipo trabalho de 3 a 6 meses. Enquanto turnê acho difícil pela proposta algum contratante de imediato pagar o que eu estou pedindo. Esse trabalho de 9 meses me custaram dinheiro, muito dinheiro e alguns amigos, É o trabalho de uma vida pra muita gente… Gostaria de ver esse trabalho reconhecido como um autêntico disco de Rap Nacional E quero ganhar prêmios, A melhor capa já é um consenso.
Queria agradecer a cada mina e mano que sempre da um salve e compartilha do meu trampo, somos quase uma família