Saiba porque hits, como “In My Feelings” de Drake, grudam em nossa cabeça

Escrito por Fellipe Santos 28/08/2018 às 15:54

Foto: Divulgação

Ciência explica como a repetição e simplicidade garantem que faixas grudem e façam sucesso.

Entre todas as 25 músicas de Scorpion, último álbum de Drake, “In My Feelings” não foi uma das faixas que se destacou de cara. Os singles anteriores, “God’s Plan” e “Nice for What” pareciam ser melhores. Porém, depois de umas duas ou três semanas do lançamento, a frase “Kiki, do you love me?” estava permanentemente grudada no cérebro de milhões de pessoas pelo mundo que não conseguiam ouvir a musica uma vez só.

Com isso, a faixa estreou no sexto lugar na Billboard em julho, e desde então lidera o gráfico por 7 semanas seguidas e estourou o recorde de faixa com mais streamings em uma só semana, com 116 milhões de streams. A internet também deu sua contribuição, transformando “In My Feelings” em um desafio de dança em que até o Zé Gotinha se aventurou.

O sucesso de faixas como “In My Feelings” pode ser muito facilmente explicado pela psicologia, como contou para a Vice a musicoterapeuta, mestre em Educação, Arte e História da Cultura e docente do Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) Priscila Mulin. Ela diz que a mente humana cria habituação a sons desde o início da vida, sendo a primeira dessas habituações à repetição e simplicidade.

“O ritmo repetitivo altera nossa consciência, porque é como se a gente se concentrasse naquele som e ela se dissipasse”, fala a professora. “Os padrões repetitivos tendem a fazer a gente querer manter a repetição: ou seja, ouvir a música novamente. Mas não são só questões rítmicas: também se trata do que é repetitivo naquela cultura.”

Isso explica também muitos sucessos dos últimos anos. Não só instrumentalmente, mas também liricamente: “Versace”, dos Migos com Drake, “Gucci Gang”, de Lil Pump, que contam com refrões repetindo uma mesma palavra, e os hits com poucos versos, refrões e adlibs de Playboi Carti são grandes exemplos disso.
Como disse o compositor e acadêmico R. Murray Schafer, o ouvido não tem pálpebras: se um som está tocando, somos obrigados a ouvi-lo e, nosso cérebro, a processá-lo. Isso explica a febre de “In My Feelings” e de tantos outros hits que de cara você não gostou, mas acabou escutando muito. Ainda segundo Mulin, a familiaridadade gera o sentimento de “eu conheço, então eu gosto.”
“Não é necessariamente uma preferência consciente, mas uma preferência imposta”, finaliza.
Ou seja: quanto mais pessoas ouvem, mais aquilo toca, o que faz as pessoas quererem ouvir mais, o que garante que o som toque mais ainda e assim sucessivamente.

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