A transição de temporadas 2017-2018 do rap, por Ronald Rios

Escrito por Vinicius Prado 24/01/2018 às 18:00

Foto: Divulgação
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O leitor deve ter gostado de 2017.

Djonga e Coruja BC1 cortaram cabeças. Diomedes e Rodrigo Ogi meteram EP’s com mais valor do que muito disco que já ouvimos. Flora fez uma joia rara racional e passional sobre amar, trampando em duas sintonias também no ofício, escrevendo e fazendo bases. O niLL tá aí na jogada comendo bolachas e o game pelas beiradas. Don L começou algo mágico ao contrário, RPA Vol 3. Rincon Sapiência vem ganhando o espaço que lhe é de direito.

Muitos desses nomes vão voltar em 2018 com outro trampo antes que você tenha decorado todas as letras dos trampos de 2017. Aliás, se prepara porque Drik Barbosa vem aí e as chances dela vir de brincadeira são poucas. Ela que já tinha participado do elegante trampo Rimas & Melodias em 2017, começa a gravar seu álbum solo logo e é lógico que a expectativa é grande. A expectativa – A pressão não! Vamos sem pressão, turma, que pressão a vida já tá dando muito para gente esse ano. Vamos devagar que vamos todos bem. Bivolt promete chamar sua orelha para uma conversa esse ano. Rashid vai embalar no projeto “Crise” todos os excelentes singles colocados na rua de 2017 e ainda lançar umas inéditas. Fica frio que vem muito rap aí e a gente não começou a raspar nem a superfície da história. Eu falei esse banquete todo que nós atacamos com os headphones e nem cheguei no herói do ano: Baco Exu do Blues. Um MC gigante. Criatividade robusta.

Gostou do que ouviu da Souto MC no cypher? 2018 acompanha os passos dela – ou você vai estar andando devagar, chapa.

Rolou um show absurdo do Emicida em 2017, pique noite histórica, com mil convidados de elite. Foi uma aula de como encher uma casa e emocionar a massa. Que show extraordinário, uma noite daquelas que se você esteve presente, meus parabéns. Manter a galera empolgada a todo segundo é papel pro mestre de cerimônias que é Emicida. Isso vai virar um DVD ainda no primeiro semestre desse ano. O nível de qualidade do show dele é melhor que vários gringos. Então a molecada que veio forte em 2017 não mosca e tira uma hora para aprender por que o cara tá na frente da corrida há tanto tempo.

Na gringa Kendrick veio com o hypado DAMN. Eu ouço até hoje e o disco é isso tudo mesmo. Não é seu melhor mas é o que há de melhor representando a juventude no mainstream. Ali do ladinho dele tem o parça J Cole. Para os weirdos, Tyler The Creator veio com Flower Boy, rimando menos mas compensando como maravilhoso compositor que é. Cardi B meteu as caras em tudo que é canto. Vai fazer o mesmo em 2018. Kirk Knight veio como belíssimo coadjuvante para o monstrão da Pro Era Bada$$, que foi ofuscado pelo Planeta Kendrick por uma questão de datas de lançamento. 2017 foi o ano do Migos também, especialmente de Quavo. Você pode detestar mas foi. 2018 tá com pinta de ser de novo, então sai da frente ou entra no bonde. Eu pessoalmente saio da frente mas não tem como negar que eles são das coisas mais quentes do momento.

Se 2017 foi uma saudável overdose de BROCKHAMPTON, aguarde um 2018 com vário galhos solo saindo dessa árvore. Rapsody nos abençoou novamente com Laila’s Wisdom. Eu tô cansado de ouvir falar que Rapsody é uma das melhores mulheres no mic. Ela é um dos melhores humanos vivos na caneta e na cabine de gravação, coloca aí o gênero que você quiser. Se o Drake veio com uma “playlist” meio fajuta em 2017, a ideia é colar em 2018 com um disco novo. Nova “Drake season”? Eu torço por isso. Mas o cara está com a cabeça afundada no pop – e dá para entender.

Falando de monstros sagrados: quem passou um tempo nas montanhas – literalmente num bangalô de luxo com estúdio – foi Kanye West. Saiba que vem o sucessor de Pablo aí. E Nas que prometeu que o disco estava pronto em 2016, reforçou que agora é a hora. Ano em que vem disco do Nas é o ano em que eu meto “Nas” no Google News toda semana para ver se tá vindo mesmo. A responsa dele é fazer algo que não faça feio perante ao 4:44. Não é porque Jay e Nas são colegas hoje que a competição (saudável) acabou. Jay-Z colocou a barra lá em cima na categoria “tô no mainstream há mais tempo que você tá vivo” e é lógico que o Nas, a essa altura no game só pelo esporte, vai querer alcançar. Isso com certeza justifica o atraso do disco novo, que devia estar pronto mesmo, mas quando ouviu 4:44, o Nas deve ter coçado a cabeça e voltado para o estúdio. A barra de Jay é algo sem precedentes. Lógico que tem vários MC’s antigos até hoje lançando coisas maneiras. Por exemplo, tem umas joias no disco que o KRS One lançou ano passado e você nem tá ligado. Mas a mistura de super fama com vendas e qualidade sonora significativa é o que impressiona. O Eminem não conseguiu alcançar com Revival. Mas como ódio é a gasolina de Marshall Mathers, pode esperar uma volta em 2018.

Falando no branquelo de nariz de Pinóquio, ano passado ele contratou pela Shady Records o Hall N’ Nash, uma dupla composta por Westside Gunn e Conway. A pesadíssima “MachineGun Black” é uma das minhas faixas favoritas de 2017 e se eles chegarem crus e sujões assim no lançamento do LP em 2018, a gente pode ver a Shady Records se recuperando enquanto lançadora de carreiras. Não pode vacilar e fazer o mesmo que fizeram na Slaughterhouse: foram para a Shady e lançaram um trampo meio pasteurizado, perdendo aquela crueza da deitadíssima mixtape deles.

E falando em selo quente, a gente termina com essa brisa: esse ano além do solo do Schoolboy Q, está sendo finalizada a trilha-sonora do Pantera Negra, cuidadosamente cuidada pelo Kendrick Lamar. TDE vai ter mais um ano luxuoso e ensinando como se trabalha.

Eu pessoalmente tô empolgado pra caralho. O rap vive um bom momento. Tem muita coisa ruim por aí? Tem, é lógico, o gênero explodiu. É igual quando um filme da Pixar faz sucesso: surgem várias cópias miseravelmente toscas em DVD tentando enganar os pais a dar o pior plágio para seus filhos. Mas se concentra no que é “a Pixar do rap” e você vai estar salvo. A cultura vai estar salva. Não se engana: estamos vendo uma parte considerável da história do Hip Hop sendo contada. A temporada 2018 só promete. Tanto na gringa quanto no Braza. Vamos que vamos.

PS – Ow! Hey! DJ Premier e Royce 5’9” confirmaram Prhyme 2 para esse ano. Você não ouviu o 1? Checa suas prioridades, parça!

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