Acumulando experiências artísticas, CHS nos mostrou que Tudo Pode Acontecer – por @rxdrxgx98

Escrito por Rodrigo Costa 21/10/2022 às 18:38

Foto: Divulgação
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Pouco antes de formar o Nectar Gang, CHS já buscava seu espaço artístico. Em Botafogo e depois na Lapa, organizava batalhas de rima. Ali mesmo, conheceu Abebe Bikila, um jovem curioso espantado com as vivências distintas encontradas num único lugar. BK’, antes morador de Jacarepaguá (na Zona Oeste do Rio de Janeiro), apesar de ser tímido e encarar estranhamente aqueles caras que avistava na KGL — como CHS e Bril, que mais para frente formariam um mesmo coletivo —, foi se aproximando e criando uma certa amizade, que mal sabiam eles que transformaria seus futuros.

Foram nessas batalhas que Sain avistou BK’ rimando, curtiu, decidiu chamar para uma conversa e oferecer alguns beats. Um deles virou a faixa Castelos & Ruínas, que, inclusive, CHS recebeu o convite para participar, mas ficou impressionado com a dimensão do single, se cobrou para rimar no mesmo nível e acabou não conseguindo entregar a tempo.

JXNV$, vindo de Volta Redonda (município do estado do Rio de Janeiro), trampava numa rádio, onde o trio de MC’s compareceu e se surpreendeu com os instrumentais produzidos pelo beat-maker. Abebe, de primeira, ficou impressionado. Porém o Kivah, batendo suas neuroses, não via o Profeta com bons olhos. Apesar disso, os quatro continuaram a se encontrar, pois os MC’s estavam movendo alguns projetos com a rádio, e então decidiram montar algo em colaboração com o Profeta, que, pela quantidade de sons que foram produzidos ao decorrer do tempo, acabou virando a mixtape de estreia do grupo, a Seguimos Na Sombra.

A partir daí, as coisas começaram a crescer e se movimentar. Pontes foram criadas, conhecidos uns dos outros foram se aproximando, se conectando e formando o Bloco Sete, um bonde em que pode-se encontrar de tudo — designer, estilista, produtor executivo e muito mais, além, obviamente, dos MC’s e DJ’s — conhecido pela forte autencidade.

Após tudo isso dito, conseguimos entender que no Catete, Glória e Lapa, definitivamente tudo aconteceu; nascendo da necessidade de uns moleques em criar algo não encontrado por ali, mas que eles mesmo queriam ver e consumir, criando então algo completamente original e com diversas referências diferenciadas.

Para obter uma experiência completa e absorver as visões do álbum de estreia do CHS, Tudo Pode Acontecer, é necessário esse entendimento de como tudo começou a acontecer de fato.

TPA, como já explícito na capa do disco — uma reeleitura por Diego Finha e Denys Cowan de Liquid Swords (1995), do GZA, integrante da Wu-Tang Clan —, é uma fusão de diferentes polos do criador da obra, tanto do lado pessoal, quanto da carreira; numa tentativa bem sucedida de mostrar o que lhe cerca e o que é encontrado no caminho para seu desenvolvimento artístico, seja inspirando-o ou impedindo-o.

Algo que também é bem arquitetado no álbum é a curadoria. CHS acerta em cheio em cada escolha, desde os instrumentais às participações das faixas, que também entenderam e sentiram perfeitamente o que cada faixa pedia.

Tudo Pode Acontecer talvez tenha levado tanto tempo a ser construído devido a vontade de Gustavo em construir um projeto completo e abrangente, que realmente englobasse suas ideias e fosse autêntico.

O que coincide com o enfim lançamento do disco é que chega às ruas no exato dia em que a pandemia pela covid-19 se alastra em território nacional. Com isso, CHS só teve a oportunidade de ter a troca com o público e perceber a reação física e emocional de cada fã cerca de dois anos depois.

Acredito que um dos pontos que destacam um álbum e que a longo prazo também o fará ser reconhecido como clássico, é a representação de tal época vivida, seja social ou pessoal, e, no TPA, há bastante isso.

Apesar de ter sido feito e lançado anteriormente a toda essa loucura mundana, o disco abrange diversos assuntos que tiveram uma crescente em pauta ao decorrer desse período de pandemia. Gustavo CHS abordou diversas pautas importantes, como o preconceito racial, social e religioso; a maneira em que o capitalismo vem diminuindo cada vez mais a liberdade artística; e um lado mais pessoal, como relacionamento amoroso e solidão.

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