Uma noite de dia das crianças inspiradora no STU Open Rio, servindo como exemplo de que o intuito da cultura hip-hop sobrevive

Escrito por Rodrigo Costa 14/10/2022 às 20:07

Foto: Divulgação
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O show foi histórico. Abebe Bikila e seus parceiros de palco, JXNV$ e DJ Diaz, estavam, juntamente ao público, numa energia inexplicável. Porém, a verdadeira atração do dia foram as crianças.

Assisti à apresentação na área restrita em frente ao palco. Fiquei ao lado do pequeno Joca, filho de CHS e Eduarda Bertolini, que estava completamente contagiado com o que via. Quando seu pai entrou para cantar KGL ao lado do BK’, ele foi junto e, mesmo assustado com o que acontecia à sua frente, continuava a dançar, conduzido por seu pai e o Abebe.

https://twitter.com/bertoliniduuda/status/1580656354892861441?t=SSQZ8Xhn90F6f3htA_ll4g&s=19

Entretanto, outro moleque também roubava minha atenção, cantando e gesticulando com forte imposição. Já no dia seguinte, eu ainda não conseguia tirar aquilo da cabeça. Decidi, então, procurá-lo.

Tratava-se de Romeo Machado, 9 anos, que é fã e ouve diversos outros nomes da cena do rap, como TZ da Coronel, MD Chefe, Cone Crew Diretoria, Black Alien, MC Poze do Rodo, Orochi, Filipe Ret e Djonga. Este último tem um espaço especial no coração de Romeo, que, após o show do BK’, pediu carinhosamente ao seu pai: “quando o senhor puder, pode me levar num show do Djonga?”

Andrey Machado, pai solteiro, cria seu filho com o auxílio de sua família e alta atenção em cada ensinamento passado, aliás, é o que moldará o caráter do pequeno, que o enxerga como super-herói.

“Sinto que tô criando meu melhor amigo, entende? Não tenho muitas palavras para expressar o sentimento que tive naquela noite de dia das crianças no STU Open Rio. Foi um momento único. Pude proporcionar com os meus contatos, conhecimentos e suor. Lá no trabalho é bem árduo e pesado, mas me dá essa visibilidade, esses contatos. Eu posso oferecer cada vez mais esses momentos para ele, então, pra mim é gratificante, eu, como homem, preto, favelado, criar meu filho e poder proporcionar isso para ele. Levei um monte de criança, meu cunhado, dois primos e meu sobrinho, além do meu filho. No final do show, voltando pra casa, chorei muito emocionado por sentir estar no caminho certo de criar o moleque.”

Andrey tem seu comércio altamente conhecido na praia do Leme, próximo ao Posto 1, a barraca Rasta Beach, que possui temática do reggae.

“Curioso disso tudo é que graças ao meu comércio, a empresa que eu tenho, eu me relaciono um pouco com a galera, né, que está na produção, nos bastidores ali dos artistas.”

Romeo é criado com base em tudo que seu pai passa e observa, buscando melhor transmitir sua experiência. Um assunto altamente recorrente nas rimas de Abebe Bikila, um exemplo disso e que não pretende também cometer, é esse papel importe que o pai tem na criação do filho e como a falta pode causar sequelas.

“Sou pai solteiro e pra mim é muito importante ter uma relação saudável com o meu filho. Não tive uma relação tão próxima com o meu pai, então o Romeo, pra mim, é mais que um desafio. Meus pais tiveram só dois filhos, eu tenho um irmão que é sete anos mais velho do que eu, que pegou ali aquela coisa de casa, família, primogênito. Até os sete anos era ele sozinho, aquela vida de casado, feliz, então quando nasci começou uma turbulência, que não me permitiu ter uma intimidade com o meu pai; então isso, pra mim, é um desafio.”

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