No último sábado o rapper Childish Gambino liberou dois novos singles, entre eles a faixa ‘This Is América” que chegou acompanhada de um clipe cheio de referencias, a faixa rapidamente caiu no gosto dos fãs, mas muitos não pegaram as diversas representações que Gambino faz no clipe, onde ele denuncia o racismo e diversas violências policiais.

Os passos de dança realizados ao longo do clipe “ignoram deliberadamente a violência ao redor”, o fazem de maneira devota, como em um ritual, ou com o objetivo de distrair a si mesmos dela, especula um artigo publicado pelo site da revista Forbes. “De qualquer forma, quer se diga que essa dança é para entreter os brancos ou para sobreviver, é uma estratégia para lidar com a morte”, escreveu  Adrienne Gibbs para a Forbes.

A coreografia de Sherrie Silver mistura danças tradicionais e novas, passos de Gwara Gwara, da África do Sul, e das danças de rua presentes em vídeos virais. O texto de Martha Tesema para o site Mashable também levanta três hipóteses semelhantes a respeito do significado da dança no clipe. A primeira é que os dançarinos a ignoram, a segunda é que sabem dessa violência e dançam para não chorar. A terceira é que dançam para uma câmera, para as redes sociais e sabem “que sua dança é uma distração, salvação ou capa de invisibilidade”, escreveu Tesema. “Note que os dançarinos não foram atingidos pelos tiros ou perseguidos pela polícia.”

Referência a lei de Jim Crow.

A expressão “Jim Crow” provavelmente originou-se da canção “Jump Jim Crow”, cantada e dançada pelo ator Thomas D. Rice, com maquiagem blackface, caricaturando os negros. A canção foi lançada em 1832 e era usada para satirizar as políticas populistas de Andrew Jackson. Em consequência da fama de Rice, “Jim Crow” tornou-se, em 1838, uma forma pejorativa de se referir aos negros. No fim do século XIX, quando as legislaturas sulistas aprovaram leis de segregação racial dirigidas contra os negros, essas leis ficaram conhecidas como Jim Crow laws

Massacre da igreja de Charleston

Em alguns momentos do visual podemos ver e ouvir um coral  de Igreja cantando uma música alegre, quando Gambino puxa uma arma e mata todo o Coral. A cena faz referencia ao massacre da Igreja de Charleston que aconteceu em 2015, A igreja é uma das mais antigas igrejas de afro-americanos no Eua.

Depois disso, o clima do visual imediatamente fica sombrio, e ele solta o verso: “Esta é a América”. Em seguida, entrega a arma a um homem bem-vestido, que cuidadosamente embala o objeto em um tecido vermelho. Ao fundo, podemos ver cadáveres esquecidos como coisas. A mensagem é clara: nos Estados Unidos, onde cada estado regula o porte e a comercialização de armas, é mais importante cuidar de um revólver do que de pessoas.

Childish Gambino não se cansa de criticar a juventude negra. No clipe, ele retrata os jovens presos em distrações bobas, como gírias, passinhos de dança, preocupações excessivas com a aparência e a compulsão por celulares. Enquanto isso, um mundo de violência, assassinatos e suicídio se apresenta no plano de fundo. Logo depois podemos ver uma figura de preto em cima de um cavalo branco, simbolismo do primeiro cavaleiro do apocalipse, com o branco simbolizando as falsas ideias de paz e religião.

Segundo a bíblia, o cavaleiro simboliza a morte e a destruição. Não por acaso, no vídeo, quem segue o cavalo é… um carro de polícia.

 

O vídeo termina com Gambino correndo para o nada, uma representação dos escravos que fugiam e eram perseguidos. O olhar de medo de Childish correndo para direção alguma, é o mesmo sentimento dos escravos fugindo sem direção.

A matéria foi feita com base nas publicações do Genius e de Bruna Martins.