Entendendo o significado do videoclipe “Hat-Trick” de Djonga

Escrito por Fellipe Santos 15/04/2019 às 21:27

Foto: Divulgação
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Djonga retorna com mais um visual simbólico.

Além de se destacar por seus álbuns e músicas com letras afiadas muito bem escritas, Djonga vem se destacando por seus incríveis videoclipes. O rapper tem lançando excelentes trabalhos visuais cheios de significados, simbologias e referencias para suas faixas. Agora, o mineiro compartilha o clipe para “Hat-Trick”, música presente em seu ultimo álbum Ladrão e que se tornou uma das canções preferidas dos fãs.

Na música, Djonga deixa claro nesses primeiros versos, pontos cruciais e necessários. Primeiro, Belo Horizonte não faz parte do cenário clássico do rap. Logo, ele conseguiu vir do “nada” e transforma-se em uma das referências, tanto pro rap, quanto para os da sua quebrada. E ele conseguiu essa ascensão da forma mais honesta, por meio da música. Por isso se orgulha tanto da forma que conquistou este espaço.

Porém, ele tem noção da importância do seu lugar de fala até chegar, onde chegou, percorreu um caminho muito difícil e complicado. Todas essas vivências proporcionaram grandes aprendizados e estimulou ele sempre a dar o seu melhor, na mais alta intensidade. Por isso, essa sacada dele foi muito inteligente. Qual é o filme de terro que foi dirigido por Jordan Peele? GET OUT, CORRA!!

Ele quer modificar o nosso espaço É para sairmos do cargo de empregado para virarmos donos! Parem de mostrar um falso poder aquisitivo por meio de luxos supérfluos (não compre corrente, abra um negócio). ele não está fazendo uma crítica vazia a essa característica dos jovens atualmente, mas sim estimulando a um pensamento maior! Possibilidade de mudar tanto a sua vida, como de toda a sua família e dos amigos. Ele está nos convocando para pensarmos grande. Pensarmos alto! Fugir dessa lógica materialista que acaba aprisionando ainda mais o preto.

No visual dirigido por 176 Studio e o próprio Djonga, começa mostrando um homem negro com o rosto pintado de branco que aparece desprezando suas origens e outros negros, enquanto age como branco para ser aceito por outros brancos. Djonga aparece no visual como uma voz na cabeça do homem, que tenta libertá-lo e mostra o verdadeiro caminho. Isso se concretiza quando o artista limpa o rosto branco do homem negro, o que provoca uma grande mudança, fazendo o homem assumir seus valores, origens e se tornando humilde. Até que, sem mais nem menos, ele toma um tiro e morre.

O clipe parece ter sido inspirado no livro “Pele negra, máscaras brancas” de Frantz Fanon, que faz fortes críticas à violência colonial, mostrando a colonização como um processo econômico, social e psíquico. Nas primeiras páginas do livro, o autor diz sobre a necessidade de uma mudança, de uma libertação do negro desse local em que a colonização o colocou, no entanto, deixando claro que isso não pode ser feito de qualquer forma e sim que tal desalienação se daria de forma planejada e menos explosiva.

A colonização não se da apenas na economia mas também no psicológico, na destruição da identidade e do espírito do povo oprimido, que limita tal povo à falta de ser. Então podemos perceber que a sociedade colonial existe de forma maniqueísta, onde para os brancos foi privilegiado a zona do ser e ao indivíduo negro, restou a zona do não ser.

Sem uma identidade o negro tenta se fazer branco negando a si mesmo em busca do privilegio da existência social, da individualização e da fala.

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