A trajetória traçada por BK’ até O Líder em Movimento, o destrinchamento conceitual e bastidores do terceiro álbum do rapper

Escrito por Rodrigo Costa 19/09/2022 às 18:15

Foto: Divulgação
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Evoluindo temporariamente e carregando consigo aquilo que antes já havia sido bem utilizado, Abebe Bikila chega em seu melhor desempenho n’O Líder em Movimento, com um lado crônico e retribuente pelo que o moldou ideologicamente, coincidentemente indo de encontro com o movimento Vidas Negras Importam no Brasil.

Ao se tratar de um álbum, o ideal é que o artista englobe o conceito que deseje e adapte às pautas momentâneas, para que seja um marco de uma época, como, por exemplo, foi Castelos & Ruínas. Daí surge o que, com o passar do tempo, será entendido como clássico.

Apreciando de fora, com senso comum, algo carro-chefe no Castelos & Ruínas é a originalidade e realidade em que o autor vivenciava até aquele momento e, devido às dificuldades enfrentadas, buscava encontrar um caminho para melhorar sua vida e dos que estavam ao seu redor.

Visto isso, consegue-se entender o porquê é alvo de devasta e ampla identificação por parte do público, inclusive, por diversos artistas do underground ou em começo de carreira, assim como o próprio BK’ naquela época.

Em Gigantes, não se perdendo nos elogios, indo avante e adotando uma nova identidade musical mas que não despejasse o que fez chegar até ali, Abebe Bikila enfatiza acontecimentos próprios ou com pessoas próximas, que observou e despertou uma opinião própria.

Atualmente, o meio majoritariamente utilizado para compartilhar, ver ou comentar assuntos que acontecem ao nosso redor ou mundialmente, são as redes sociais. Porém, BK’ entende que, nelas, as opiniões são distorcidas e não é encontrado um espaço que permita abranger inteiramente suas opiniões, por isso, prefere engloba-las musicalmente.

Agora, chegando finalmente a’O Líder em movimento, Abebe decide retribuir o que a cultura hip-hop e sua localidade o proporcionaram, entre formação como ser-humano e permissão de uma melhora de vida, abordando pautas importantes como o racismo, capitalismo e muito mais.

O álbum foi feito em março de 2020 numa casa distante da capital do Rio Janeiro, pois era momento de Carnaval e o BK’ estava ciente de que caso ficasse indo para o estúdio gravar e depois voltasse para sua casa, iria para os blocos carnavalescos beber e não daria o seu melhor nas gravações dos dias seguintes. Nesta casa, Abebe Bikila contou com a participação do fotógrafo João Victor Medeiros, os produtores musicais El Lif Beatz (responsável pela direção executiva) e o engenheiro de áudio Arthur Luna.

Inclusive, foi após esse período de Carnaval que a pandemia pela covid-19 veio à tona no Rio, atrasando o lançamento do disco nos palcos, que veio acontecer apenas em dezembro do mesmo ano, em três noites seguidas de ingressos esgotados (em menos de quatro horas de vendas) num final de semana no Circo Voador.

Além de ter atrasado o lançamento nos palcos, a pandemia impediu que BK’ lançasse dois discos em 2020, que sairia do padrão de lançar de dois em dois anos. O rapper lançará um novo disco no final de outubro deste ano de 2022 e prometeu que, após isso, sairá desse padrão, lançando um outro disco ou, pelo menos, um EP ou mixtape no ano seguinte, mantendo o público mais por dentro do que vem produzindo em momento (quase) exato e experimentando outros espaços musicais, como fez em Antes dos Gigantes Chegarem e Cidade do Pecado.

A pandemia impossibilitou também a realização completa do merchandising do álbum. Abebe revelou que tinha muitos planos para essa parte, mas apenas as camisas foram lançadas. Entretanto, junto à dupla de marketing Lenin Gomes e Andressa Sgarzi, nasceu a ideia de enviar para 150 pessoas um kit de um moleskine com a logo do disco e uma carta com booklet, release, fotos e links de audição.

Para construir o álbum, BK’ utilizou referências de DAMN., do Kendrick Lamar, a fim de transformá-lo num misto de experiências ao ser ouvido. Entre elas, destaca-se que, ao ouvi-lo em sua ordem originalmente lançada, o personagem do disco inicia refletindo e, degrativamente, vai enfrentando problemas pessoais, chegando ao caos e finalizando novamente reflexivo. Ouvindo-o ao contrário, começa já na guerra e termina refletindo.

O Líder em Movimento, com exceção dos beatmakers, não conta com nenhuma participação, porque Abebe sentiu que tinha muita coisa a falar, e já vinha de um disco anterior repleto de participações. Todas as faixas contam com a produção musical do Jonas Profeta, que contou com a participação do DJ Erick Jay em Visão, a dupla Deekapz em Lugar e Nansy Silvvz em Universo.

*Fotos e artes por João Victor Medeiros e Lucas Rodrigues, respectivamente.

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