Bernadete Pacífico, líder quilombola, é assassinada a tiros na Bahia

Renan
By Renan

Governo envia equipes ao local do crime, e governador da Bahia promete empenho na investigação; vítima teve o filho morto há seis anos.

No dia 17 de agosto de 2023, a líder do Quilombo Pitanga dos Palmares, Maria Bernadete Pacífico, também conhecida como Mãe Bernadete, foi brutalmente assassinada em sua comunidade na região metropolitana de Salvador, Bahia. Mãe Bernadete era uma figura proeminente na luta pela igualdade racial e pela preservação das tradições quilombolas. Ela também havia ocupado o cargo de secretária de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho, na Bahia. Sua trajetória foi marcada por dedicação à causa e resistência.

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De acordo com relatos, indivíduos criminosos invadiram o terreiro da comunidade, fizeram familiares de Mãe Bernadete reféns e a executaram a tiros. O assassinato traz à tona a triste memória de seu filho, Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, mais conhecido como Binho do Quilombo, que também foi morto há quase seis anos, em 19 de setembro de 2017. Diante dessa tragédia, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, emitiu ordens para que as polícias Militar e Civil conduzam investigações rigorosas sobre o ocorrido.

Denildo Rodrigues, da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), aponta para um elo entre o assassinato de Mãe Bernadete e o grupo responsável pela morte de seu filho Binho. Ele destaca que ela tinha conhecimento e a justiça estava ciente de quem estava por trás do homicídio de Binho, mas nenhuma ação foi tomada naquela época. Sua contínua luta e voz ativa contra a injustiça podem ter sido os motivos por trás desse terrível ato.

As comunidades quilombolas e terreiros de Simões Filho enfrentam ameaças constantes de grupos ligados à especulação imobiliária, que buscam ocupar os territórios historicamente pertencentes a essas comunidades. A capital da Bahia é reconhecida pelo Censo Quilombola do IBGE como a cidade com a maior população quilombola do país.

A Conaq emitiu uma nota exigindo ação imediata do Estado brasileiro para proteger as lideranças do Quilombo de Pitanga de Palmares. A entidade expressa profunda tristeza pela perda de Mãe Bernadete, destacando seu papel sábio e inspirador. A organização enfatiza a necessidade de uma investigação rápida e eficaz para identificar e punir os responsáveis por essa série de crimes violentos que têm vitimado líderes quilombolas.

Diante da gravidade da situação, uma comitiva composta pelos ministérios da Igualdade Racial, Justiça e Direitos Humanos planeja realizar reuniões presenciais na Bahia. O objetivo é fornecer apoio às vítimas e familiares, além de garantir proteção aos territórios ameaçados. O Ministério da Igualdade Racial também convocará uma reunião extraordinária do grupo de trabalho de enfrentamento ao racismo religioso.

O Quilombo Pitanga dos Palmares, sob a liderança de Mãe Bernadete, engloba cerca de 289 famílias e ocupa uma área de 854,2 hectares, oficialmente reconhecida em 2017 pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A comunidade já recebeu certificação da Fundação Palmares, porém, o processo de titulação do quilombo ainda está pendente.

Recentemente, um levantamento realizado pela Rede de Observatórios de Segurança revelou a Bahia como o segundo estado com mais ocorrências de violência contra povos e comunidades tradicionais no Brasil, com 428 vítimas registradas entre 2017 e 2022. Esse triste cenário realça a urgência de medidas efetivas para garantir a segurança e a justiça para as comunidades quilombolas e seus líderes.

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