Viviane Lopes Matias pisou em um mundo que não era seu. Viviane Lopes Matias ousou ser alguém que não era permitido. A força, coragem, talento e inteligência de Dina Di, a mãe do rap nacional merece ter seu devido reconhecimento. Sacar, aos 16 anos, que a única maneira de começar a se impor era “jogar o jogo” não é para poucos, é revolucionário. Roupas largas, boné e cara fechada. Nada de sexualizar a mulher, se é pra prestar atenção nela que preste pela lírica feroz.
Dina Di, a nossa noiva do Thock, rompeu muros do machismo presentes no rap no início dos anos 2000 (que perdura até hoje, na verdade) para soltar pelo microfone toda a sua raiva e indignação de uma mulher que passou dificuldades na vida, mas que não tinha espaço nos microfones para isso.
Uma mulher no rap questionando machismo nas letras Racionais, o maior grupo do estilo no país, quando eles estavam no ápice (2002)? Isso era impossível de se pensar. Dina Di fez!
“Cada mulher sabe o medo que ela tem! O homem pode ver, mas não pode sentir. Eu tenho o maior respeito pelos Racionais, mas, vai me desculpar, chamar uma mulher de vadia é muito difícil de aceitar. O Mano Brown fala da mãe nas letras, mas nunca da mulher dele. Qual é a resposta? Resistir! Eu sou Dina Di e meu bagulho tá no sangue”, disse a rapper em entrevista para a jornalista Eliane Brum, da revista Época, em 2002.
Conhecer o passado, para entender o presente e construir o futuro. Ela é a maior e tem que ser lembrada como a maior referência quando se fala em empoderamento e feminismo dentro da cena do rap. Graças a ousadia de mulheres como Dina Di, Negra Li e Rúbia que hoje podemos curtir Karol Conká, Drik Barbosa, Tássia Reis, Bivolt, Azzy, entre outras.
Hoje se fala muito do tal “rap de mensagem”. Aqui fica a pergunta: será que é você que não busca isso o que tanto quer? “Confidências de uma presidiária”, uma visão de como é o sistema carcerário feminino, é uma das letras mais fortes e reais da história do rap nacional. Realidade através das palavras. Sem papas na língua. Assim que ela era e assim que tinha que ser.
Temos que ouvir, agradecer, enaltecer e lembrar Dina Di como mais que uma rapper, ela é um símbolo do que essa mentalidade representa verdadeiramente. Não ficar submisso ao que nos impõe, falar o que quiser e o que deve ser dito, com coerência e ideologia.
Obrigado Viviane Lopes Matias! Obrigado Dina Di!