Coluna RAPires: Sim! Nossa revolução tem que ser televisionada

Escrito por Fellipe Santos 03/01/2019 às 18:30

Foto: Divulgação

Criticados por uns e amados por outros, rappers tidos como “vendidos” e “modinhas” conseguem romper a barreira favela/pista e 2019 tem tudo para o rap se consolidar como o gênero mais influente entre os jovens. Para eles: Muito obrigado!

Ano novo, vida nova e discussão antiga. No fim do ano passado, Baco Exu do Blues lançou o seu aclamado álbum “Bluesman”, que até recebeu o prêmio de melhor disco do ano pela revista Rolling Stones. Pois bem, com esse álbum o rapper também chegou a ser convidado para participar do programa “Encontro com Fátima Bernardes”, da rede Globo. Em suas redes sociais, ele recebeu mensagens como “Foi pra isso que você fez Sulicídio. Pra ficar mexendo o rabo em rede nacional” e “Mais um que se vende pra Globo”.

Lembro que há uns anos também chamavam o Emicida de vendido e traíra. Desde lá fico pensando o que seria esse “Real hip-hop” que tanto falam.

Cresci ouvindo dizendo que rap era música de marginal e hoje esse estilo está ganhando o mundo. Estou amando ver a proporção que o hip-hop tomou, uma cultura que foi tanto criminalizada está comandando o mercado fonográfico e as mentes das pessoas em todos os continentes.

Não dá pra fazer revolução só dentro de casa, na favela e nos shows. A ideia tem que se expandir, tem que chegar no ouvido do senhor e da senhora que passam as tardes de olho na televisão! A televisão e a internet são meios de comunicação, assim como a música se tornou, e os rappers tem que usa-las para o bem, pra abrir os olhos da mamãe e do papai. Enquanto houver gente pensando que qualquer rapper que faz sucesso é um vendido, o rap não vai para frente. Na real, quem fala isso é porque não sabe o quanto o MC batalhou pra chegar onde está hoje. É conversa de quem é de moleque fanático que conhece 2 ou 3 grupos e acha que tem moral pra julgar o cara. Não sabem que o Emicida, por exemplo, é um dos rappers mais líricos que temos aqui no Brasil. Em questão de qualidade técnica nas rimas, ele é quase imbatível! Eu, por exemplo, tenho todas as mixtapes, os EPs e os CDs dele. Essa discussão atrasa o trabalho dos rappers. Ele tem lançou trabalhos excelentes e que chamaram a atenção para o hip-Hop. Acho que essa atitude, que alguns estão tomando como arrogância, é a maneira que ele encontrou para se defender das críticas (que os fãs de rap colocam sobre ser vendido ou não) mostrando que ele está convicto do trabalho dele.

Devemos ficar felizes quando um dos hinos do rap nacional se torna realidade: “Inacreditável, mas seu filho me imita/ No meio de vocês ele é o mais esperto, ginga e fala gíria, gíria não dialeto/ Esse não é mais seu, óh subiu! Entrei pelo seu rádio, tomei, cê nem viu/ Nós é isso, ou aquilo, o que cê não dizia!? Seu filho quer ser preto, rá, que ironia”. Já imaginou que por causa da ideologia passada através de grandes emissoras, uma vida pode ser mudada? A mentalidade das pessoas evoluem e o rap pode ser um fator determinante para isso.

Os rappers tem que aprender a usar as redes sociais e a internet para vender o produto deles, a fazer o marketing. É uma geração que tem a faca e o queijo na mão, mas só alguns tão sabendo usar. Um que está explorando bem isso, como já foi dito, é o Baco.

Eu não consigo entender quando alguém fala para uma pessoa escutar o som do cara, falando que é muito bom e etc, e quando a pessoa escuta e começa a gostar do trabalho inteiro do rapper a ponto de ir em show e tudo mais, começa a chamar de modinha.

No Brasil fazer sucesso parece ser algo ruim. Fico imaginando se o JAY-Z ou o Kanye West fossem brasileiros e quisessem revolucionar a cena para business como eles fizeram nos Estados Unidos. O tempo mudou e com isso as coisas mudaram. Falam tanto que MC tem que cantar a sua realidade e quando ele canta que venceu na vida é criticado.

“Vendido” e “Modinha” é o cara que canta rap sobre o que nunca foi sua realidade só para fazer dinheiro, essa é a verdade. Basta isso, pois como disse Sabotage: O rap é compromisso, não é viagem!

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