Crítica: Com mais acertos que erros, ‘Irmandade’, da Netflix, é uma série necessária

Escrito por Fellipe Santos 18/10/2019 às 17:25

Foto: Divulgação

Série estreia na Netflix no próximo dia 25 e é estrelada por Seu Jorge e Naruna Costa

Desde que ficou conhecida pelas séries de alta qualidade e percebeu que o catálogo alheio podia ser apenas uma porta de entrada, a Netflix passou a investir de forma intensa em produções autorais. O Brasil sentiu essa iniciativa somente em 2016, quando fomos apresentados ao mundo distópico e batido de ‘3%’ e descobrimos que o erro de muitas produções nacionais é tentar se ver em uma fórmula americana. 

Em “Irmandade”, a mais nova série brasileira a estrear na Netflix, a certeza de que tudo seria diferente ecoou desde o trailer, algo que muito se deve à forte história sobre facções criminosas na São Paulo de 1990. Ainda assim, pelos seis episódios que tivemos oportunidade de assistir, a produção estrelada por Seu Jorge e Naruna Costa é a síntese de um um mundo que tenta encaixar suas narrativas propriamente brasileiras em moldes que só serviriam em Hollywood. 

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Se a premissa da série é de certa forma inovadora ao mostrar uma visão diferente dos processos que envolvem uma facção criminosa, são muitos os momentos que obrigam o espectador a se perguntar se tudo não se trata de mais uma reprodução de filmes do gênero. O thriller forte, e ao mesmo tempo exagerado, dos dois primeiros episódios se assemelha muito a uma narrativa já vista e que de certa forma atrapalha o desenvolvimento daquela que pode ser considerada uma história inédita. 

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No entanto, se é difícil dizer se a atuação um tanto robótica de parte do elenco e os diálogos forçados são os combustíveis para a percepção que coloca “Irmandade” como um produto inacabado em seus primeiros episódios, a força que a série ganha no decorrer da história certamente é fruto de um roteiro bem costurado. A despeito de qualquer narrativa clichê que possa apresentar no início, se apegar às subtramas e ao clímax é algo inevitável, o que prova a força que possui enquanto um suspense de qualidade. 

A dimensão narrativa que se apodera do roteiro, inclusive, aparece junto de uma forte crítica a todos os elementos que tornam “Irmandade” uma série necessária. O sistema carcerário não apenas é o vilão, como também o aspecto que reafirma toda e qualquer atitude encenada. Sair com a percepção do que vem a ser o correto, portanto, é um desafio e, por assim dizer, o tempero que nos move rumo ao próximo episódio. 

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A trilha sonora, escolhida como que a dedo, oferece uma outra dimensão aos acertos dos episódios. Temos não apenas as rimas afiadas de Racionais MC’s, Thaíde e outros mestres do rap nacional, mas também uma música original forte e, em certa medida, necessária para que o suspense proposto seja bem-sucedido. Se são os versos de “Capítulo 4, Versículo 3” que costuram as ações dos protagonistas da série, o erudito de Nick Graham Smith exerce a função mais cinematográfica. 

Dizer que “Irmandade” não é uma superprodução seria tão injusto quanto encaixá-la à categoria de produto fiel à realidade retratada. Os erros claros e fortes são de certa forma corrigidos por um roteiro afinado, que inclusive ganha corpo graças a uma direção esperta. Muito pode ser aproveitado nos episódios de “Irmandade” e não é a tentativa de encaixe numa premissa hollywoodiana que vai lhe tirar tal mérito. 

Confira o trailer de “Irmandade”:

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