O coletivo DUTO, que recentemente entrou para o cast da Universal Music, participa ativamente da verdadeira revolução social e cultural que acontece em Madureira no Rio de Janeiro, dando voz a novos artistas.
Formado pelos artistas Malía, QXÓ, Ramonzin, 3RDW e Dughettu, o selo criativo tem foco na construção de novas matrizes sonoras e no desenvolvimento de talentos da música negra urbana.
Os primeiros artistas a serem apresentados, QXÓ e Ramonzin, acabaram de lançar seus singles “Essa Vida” e “Valei-me” e se reuniram para falar com a imprensa na sede da Universal Music no Rio.
Trocamos ótimas ideias com Qxó e Romanzin que deram excelentes visões sobre muitos assuntos, incluindo suas influências musicais, skate, moda, Start Rap e o cenário do rap nacional atualmente. Além da importância cultural e social do selo DUTO.
Confira nossa conversa abaixo:
Qxó
Qual a importância de ter trabalhado com Marcelo D2, o que pode aprender com ele?
– A Importância em uma nota de 0 a 10, é 11. Trabalhar com ele não trabalhei muito, mas tive o prazer de fazer uma música com ele, e toda vez que ele faz shows e performa essa música, ele me chama. Por essa vivência eu mostro meus trabalhos para ele, que tem uma visão lapidada e vai me dando uns toques sensacionais, coisa que faz até hoje. Ele pra é meu Padrinho Musical.
Mesmo com você e Sain iniciando muito bem a carreira solo, o Start Rap continua? Continuam trabalhando juntos?
– O Start Rap tem um disco pronto, continuamos trabalhando juntos, porém, o Sain está alavancando a carreira solo e eu a minha, e isso no final só soma pro Start quando lançarmos esse disco, por que vai lançar com o peso meu e do Sain. Tem o Faruck também que faz os trabalhos dele pelo meio do Samba, ele também é muito envolvido com a música, então agora o Start Rap só está esperando burocracias para lançar esse disco.
Percebemos que você se veste com muito estilo, você é bem ligado na moda e nesse lado fashion? Se inspira em alguém?
– Me inspiro em alguns, eu nunca estudei moda, é fogo falar por que muitas pessoas aqui no Brasil quando você fala de moda, as pessoas são estudadas, opinam “Não é assim, não é assim..” Não, a minha moda é do meu jeito e vai ser assim, não adianta falar que é estranho, na verdade podem até falar, mas não vou mudar. Eu tenho como referencia visual Travis Scott, ASAP Rocky e principalmente ASAP Nasty, esse é o cara, queria me vestir como ele todos os dias. Depois que eu entrei para Universal Music também acabei me aproximando mais do mundo da moda e hoje estou mais “afiado” com as coisas que coloco no meu corpo.
Ramonzin
Qual a diferença do Ramonzin de 2010, quando lançou o single ‘Se Ela Soubesse’, para o Ramonzin de agora, do single “Valei-me”?
– Tem muita mudança, mas ao mesmo tempo não teve.. Eu nunca perdi a essência, mas eu trouxe um amadurecimento maior em cima daquilo de coisas na qual eu precisei otimizar do meu trabalho, hoje eu tenho capacidade de fazer coisas autenticas e legitimas, eu continuo sendo o Ramonzin com essência e raiz, mas que tem um conhecimento maior sobre a música.
Como foi trabalhar com MV Bill?
– MV Bill é um cara que já estava na minha história, mesmo antes de eu começar a fazer Rap. Eu gosto da mistura, eu sempre tratei o Rap como mensagem, ferramenta de transformação e manifestação, o Bill sempre fez uma linha na qual eu gostava de trabalhar, ele D2, Mano Brown me influenciaram muito no que eu sou hoje.
Uma parada muito legal que ele veio dar um feedback em um som nosso que acabou não entrando em meu álbum, foi “Quando eu ouvi esse som você me surpreendeu, eu não pensava que você iria trazer essa qualidade na produção” Eu fiquei muito lisonjeado, foi uma das grandes realizações que eu tive.
Você ainda anda de Skate? Como foi essa fase? Pensou em levar a sério?
– Pensei sim, eu ando muito de Skate, comecei na adolescência.. Eu ainda ando muito por que trabalho com a galera do ADEMAFIA do bale do Ademar e eu conheci o Rap pelo Skate e ele nunca saiu de mim, e o skate é um universo mais plural que eu já vi, tem o Rap, Reggae, Rock e eu optei por fazer Rap, ele integra muito as pessoas.
Para os Dois
O selo DUTO, que vocês fazem parte assinou com a Universal. Qual a importância disso para vocês, como artistas? De estar ao lado de uma grande gravadora.
Ramonzin – “É uma parada que eu não imaginaria que estaria aqui a pouco tempo atrás, isso mostra que as grandes gravadores estão interessadas por trabalhos que vem de um estilo independente de fazer música, eu fiquei muito feliz por ter assinado com a gravadora e por ela ter a sensibilidade de entender o trabalho que eu tava fazendo e que eu pudesse explorar isso e ela externar o que eu estou fazendo”
QXO – “A proposta “Label” dentro de uma gravadora é algo pioneiro dentro do Brasil, esse modelo só existe internacionalmente dizendo, como Def Jam, Young Money, Cash Money.. aqui no Brasil assinado com gravadora, a DUTO é a primeira, a importância de uma Label de estar dentro de uma gravadora é o “Next Stop”, com certeza estamos abrindo uma nova era musical pro Rap, outras Bandas, outras Labels e outras gravadoras vão olhar para o que a DUTO e a Universal estão fazendo, e isso reflete na gente muito bem como artistas por que somos os primeiros envolvidos nisso”
O que vocês podem falar sobre o DUTO, qual a importância social e cultural do coletivo em Madureira?
Ramonzin – “Acho que o principal que a gente quer mostrar é mais do que uma postura visual, é um exemplo, de conduta e comportamento. E se tratando de subúrbio que já tem um cotidiano enraizado nas pessoas, a DUTO vem pra mostrar uma nova de se pensar, artisticamente e empresarialmente falando, mas mantendo suas raízes”
QXO – “Não vou dizer pra você que tudo de Madureira gira em torno da DUTO, mas muita coisa, tipo 80% das coisas Culturais, intervenções, coisas gratuitas, coisas que as pessoas acessam normalmente na Zona Sul, foram para a Zona Norte por causa da DUTO, até mesmo lojas que só existiam na Zona Sul vieram para Madureira com parceria da DUTO então, DUTO é Madureira e Madureira é DUTO
Vocês (DUTO) tem álbuns ou projetos chegando por ai? Se sim, o que podemos esperar?
Ramonzin – “O nosso coletivo vem trabalhando muito em cima da qualidade, e quando digo qualidade isso demanda muita coisa, tempo, refazer coisas, perguntas e respostas, reação, termômetro e principalmente o que os artistas gosta de fazer. Nossa principal característica é a qualidade, Nos vamos lançar outros singles em sequencia quase de forma simultânea, mas todas elas vão se manter em um nível de qualidade que vão alcançar um outro nível de raciocínio”
QXO – “Todos nós temos singles para lançar e de single e single chegaremos em um EP, quanto a um projeto juntos ainda estamos trabalhando nisso.”
Como vocês veem o cenário da Rap e Hip-hop no geral hoje no Brasil? Muita coisa mudou?
Ramonzin – “Muita coisa mudou e isso foi bom, o Rap está em outro panorama, hoje a acessibilidade está maior, o rap está em alta por que hoje tem um grande publico pra consumir isso, as pessoas acompanham… mas por outro lado, hoje o trabalho aumentou para você se manter no mercado, existe uma luta própria interna individual de cada artista para se manter no mercado, onde tem gente fazendo muita coisa boa, e isso funciona com todos os tipos de mercado. E se hoje o Rap esta em um panorama bom, o trabalho para se manter nele, se dobra.
QXO – “Muita coisa mudou, muito amadorismo saiu, as pessoas estão se profissionalizando cada vez mais, agora está mais respeitado como uma vertente musical. O Cara do Interior do Brasil agora sabe que o Rap existe, agora o que está acontecendo é formalizar a música e isso está sendo muito bom.
Qual seria a colaboração dos sonhos deles? Artistas nacionais ou internacionais.
Ramonzin – “Sou muito regionalista, tenho muitas influências, se eu pudesse eu trabalharia com Chico, Caetano, Seu Jorge, eles são personalidades que agradam meus ouvidos e me influenciaram, tem gente do samba também.. Eu sou muito influenciado nas sonoridade das coisas Brasileiras, se eu pudesse gravar, seria com pessoas como essas”
QXO – “Uma música com o Cassiano seria a colaboração dos sonhos, mas “A” colaboração dos sonhos seria com o Rapper Travis Scott.”
Agradecemos muito Qxó, Ramonzin, DUTO, assessoria de imprensa e a Universal Music pela entrevista.