DON L fala sobre Festival MADA, cena do Rap nordestino, posicionamento dos artistas no ano das eleições e mais em entrevista exclusiva

Escrito por Vinicius Prado 04/06/2022 às 19:00

Capa Don L
Foto: Larissa Zaidan

Don L será um dos destaques da edição 2022 do Festival MADA em Natal, no Rio Grande do Norte

O line up da 22ª edição do Festival MADA, segue cheio de atrações de peso. Don L, um dos grandes nomes do rap nacional, estará presente pela primeira vez no evento que vai acontecer em Natal (RN), nos dias 23 e 24 de setembro, no Arena das Dunas. No final do ano passado, o rapper lançou Roteiro para Aïnouz, Vol. 2, misturando rap, soul e trap, que foi muito bem recebido pelo público e ganhou uma série de premiações. 

Além de Don L, os nomes já divulgados no line up do festival são: Linn da Quebrada, Emicida, Djonga, BaianaSystem, Afrocidade, Letrux, Gloria Groove, Boogarins, Terno Rei, Josyara, Luisa e os Alquimistas e Marina Sena.

Don L por Isabel Gandolfo

MADA (Música Alimento da Alma) é um dos eventos mais importantes para a cena musical brasileira e coloca lado a lado em palcos iguais, artistas emergentes e nomes consolidados. Além disso, ao longo da sua história, sempre priorizou a equidade de gênero no line up.

Falamos com Don L sobre seu show no festival e a importância do Nordeste ter um grande evento como esse valorizando a cena local. O rapper também falou sobre o posicionamento politico dos artistas neste ano de eleições, cena atual do Rap no Nordeste, nova geração de artistas e muito mais.

Confira nossa entrevista completa com Don L abaixo:

O festival MADA é um dos poucos eventos com grandes nomes nacionais que vai acontecer no nordeste. Qual a importância disso para a representatividade do artista nordestino e para cena em geral na região?

Acho muito importante ter grandes festivais de música no nordeste, principalmente valorizando os grandes artistas nordestinos.

O evento vai acontecer próximo das eleições. Acha que veremos muitos artistas se posicionando e fazendo discursos sobre a eleição nos palcos? E qual a importância desse posicionamento de grandes artistas neste momento?

Acho que os artistas com certeza devem se posicionar porque a cultura é uma das áreas mais afetadas por políticas públicas e o investimento em cultura no Brasil sempre foi muito baixo. A gente precisa de maiores investidores, é uma das coisas mais importantes. Os artistas têm essa missão de se posicionar pela sua própria sobrevivência mesmo, enquanto artistas.

Como tem preparado seus shows? E teremos alguma novidade para o MADA?

Queremos levar o show do RPA2, porque ele ainda não foi apresentado em Natal, mas estamos sempre atualizando a apresentação, colocando coisas novas. Nenhum show é igual ao outro, sempre estamos criando coisas diferentes.

Como vê a cena do Rap no nordeste atualmente? Teve evolução e uma exposição maior nos últimos anos, concorda?

Teve uma evolução sim, com alguns nomes que se destacaram nacionalmente. É um caminho sem volta. Agora vai ter mais gente surgindo sempre, espero que a gente também consiga fortalecer a cena no próprio nordeste, para circular mais lá e os artistas nordestinos não precisarem estourar em outras regiões como o sudeste para serem valorizados.

O RPA já virou um clássico. A princípio, qual era o conceito por trás de todo o projeto.

O conceito por trás do projeto, em primeiro lugar, é um exercício de imaginação revolucionária: imaginar um novo mundo possível, já que a gente concorda que o que estamos vivendo não é sustentável. Acho que todo mundo concorda com isso: que não estão legais as diversas formas como lidamos com vários aspectos da nossa vida no sistema capitalista e que a gente precisa mudar. Já que a gente tem isso como basicamente um consenso, então como seria essa mudança? O que a gente poderia imaginar? Por que vou ficar conformado com essa situação, repetindo as mesmas ideias – que são ideias de progresso e conquistas apenas individuais – que não nos realizam de fato? Só conseguimos nos realizar completamente se for uma realização coletiva. Acho que a coisa mais importante no disco é se desafiar a imaginar um novo mundo, uma imaginação revolucionária.

Você vem muito numa contramão do que jovens rappers e trappers cantam hoje. Já passou pela sua cabeça, por algum momento, que passar mensagem consciente hoje em dia não ia gerar tanto retorno do público?

Sempre confiei muito no meu trabalho, e esse estereótipo do rap consciente me incomoda um pouco. Fica parecendo que você precisa fazer um rap panfletário ou algo que está falando sobre política ou às vezes falando sobre o próprio rap: como ele não está legal, não faz isso ou aquilo ou “eu sou mais verdadeiro porque eu passo a mensagem e tal”. Não gosto desse estereótipo. Acho que você pode propor coisas diferentes de um modo sutil. Eu fiz uma proposta, mas existem diversas outras formas de fazer isso de uma maneira que seja também popular, que as pessoas se identifiquem. Passar pela minha cabeça que essa caricatura do que é rap consciente seria impopular? Sim, até porque eu concordo, seria impopular, mas propor coisas novas, saindo desse estereótipo do que seria velho, fazendo algo novo, muito pelo contrário: acho que o público precisa e as pessoas estão meio de saco cheio da mesma coisa sempre. Se você pensa na questão do rap consciente porque ele é consciente em sua tradição, acho um argumento pobre. Existe a tradição e você precisa respeitá-la, mas o principal é que estou propondo uma coisa nova, não estou me prendendo a um estereótipo do que é um rap do passado, que era mais consciente, politizado e tal, acho que é um pouco o contrário disso. É algo que tem que ser dito de forma diferente, tem que propor coisas diferentes, porque faz parte do hip hop, o hip hop é sempre fresh, sempre novo.

Tem algum rapper da nova geração que você se vê fazendo um feat?

Vários. Eu estou lançando um remix agora que vai ter a participação do Bakkari, que é um moleque novo de Fortaleza, e também tem a participação do Djonga, que também é da nova geração. Tenho músicas com o Jé Santiago que eu nem lancei. Tem vários artistas dessa nova geração que eu já conversei de fazer um som e qualquer hora vai sair. Tem um projeto com o Orochi, BK e o Xamã, por exemplo, e alguns outros artistas. Uns mais conhecidos, outros menos. Sou um cara que gosta de acompanhar o que a molecada está fazendo e sei também que eles escutam e me tem como referência, então estou sempre fazendo essas pontes.

O que o Don L fã de música acha do Don L artista? Esse Don L fã iria num show do Don L artista?

Iria sim. É uma coisa que sempre falo em minhas entrevistas: eu faço meus sons porque preciso deles. Quando me proponho a fazer uma música ou um disco, faço algo que gostaria de ouvir e não vejo ninguém fazendo. Com certeza seria algo que eu ficaria muito empolgado de colar, porque eu faço para mim em primeiro lugar e é por isso que as pessoas se identificam.

O MADA, que não aconteceu em 2020 e 2021 devido à pandemia, volta este ano em seu formato presencial e terá como exigências para acesso, comprovante de vacinação com duas doses ou dose única, junto com documento de identificação com foto.

Os ingressos estão disponíveis pela clicando aqui.

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