O retorno do emicídio lírico qualificado de Emicida com “Eminência Parda”

Escrito por Fellipe Santos 13/05/2019 às 19:52

Foto: Divulgação

Emicida mostra porque é o rei das rimas e dono das melhores líricas contra o sistema.

A primeira pedrada do ano de Leandro Roque de Oliveira veio na última quinta (9). Com o single “Eminência Parda” ele mostra, em 1 minuto e 36 segundos, porque ele é o rei das rimas e dono das melhores líricas contra o sistema. Feroz como sempre, Emicida nos faz lembrar, musicalmente, que temos que respeitar a galera das antigas que sempre trouxe a tônica social como carro chefe e fez crescer o movimento.

A música começa e termina com Dona Onete fazendo uma versão de “Canto II”, de Clementina de Jesus. Um canto tradicional de rodas de capoeira e jongo que conta a história de um menino que foge para o Quilombo de Dumbá. Uma verdadeira joia da cultura afro-brasileira.

Jé Santigado, um dos melhores nomes da nova geração, em apenas 10 linhas consegue se expressar de maneira contundente no refrão. Em pouco tempo lembra a época de quando o Recayd Mob batalhava e agora tem muitos haters. Também cita Kendrick Lamar, ao fazer referência a um dos versos mais famosos do rapper americano “Muito menos nos po-po (Fuck the police)” (Nigga, and we hate po-po. Wanna kill us dead in the street fo sho’), mostrando que para jovens negros a polícia não é confiável.

O retorno do rei das rimas vem brutalmente. Emicida faz diversas mudanças de flows, sempre mantendo a temática do racismo no Brasil, o que é comprovado no clipe da música. Fazendo seu clássico jogo de palavras, como “Sacro igual Torás” (referência tanto o Torá, livro sagrado do judaísmo, quanto os Torás, grupo indígena que ocupa e ocupou parte da região do amazonas) ou como em “mato igual corais” (referência tanto a letalidade das cobras corais, como às cores da policia militar no Estado de São Paulo, também conhecida por sua letalidade), ele deixa explícito que o projeto não vem para ser só mais um no cenário do rap nacional.

Emicida veio com a missão deixar com a pergunta: Para você, qual lugar que o negro pertence na sociedade? Em tempos sombrio é necessário cutucar essa ferida. Só quem passa isso no cotidiano sabe que chega a ser de constrangedor para triste ir comprar uma roupa numa loja cara e ser seguido pelos seguranças ou, como mostra no clipe, ir comer em um restaurante chique e ser encarado toda a hora.

Para terminar, o rapper português Papillon se junta bem nesse discurso forte de orgulho negro de Emicida, como em “Foco e atenção na nossa ascensão. Fuck a opressão”.

Com o pé na porta, Emicida voltou no momento certo. Em tempos que a sociedade está perdida com políticos abertamente preconceituoso, ele vem, mais uma vez, com a sua caneta tentando nos trazer o pensamento libertário.

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