Amanda Sarmento, artista da zona oeste do Rio de Janeiro, adota uma forma diferente de lidar com a tecnologia e redes sociais.
Não se importa com engajamento, acredita que a maneira que o público deve a conhecer é através do que produz, e não de como cria conteúdo ou por meio de sua imagem. É a primeira de sua família a ter se formado. Fez faculdade de Ciências Sociais na Rural (em Seropédica), tornou-se professora e criou um movimento que incentiva o estudo ao que cursou. Totalmente independente, assim como ainda é atualmente, lançou em 2018 seu single de estreia, Mais Um Soul, com produção própria.
Algo que marca a arte de Amanda é sua originalidade, por fazer misturas distintas mas que encaixam com suas melodias calmas, ditando seu próprio ritmo, seja no drill, pagode, rap, soul ou r&b. A artista busca a liberdade de fazer, viver e sentir o que quer. Acredita que não há necessidade de estar a todo momento falando sobre luta e ódio, vê como importante as músicas, assim como as suas, que trazem paz e tranquilidade.
Para conhecer um pouco mais da personalidade de Amanda, o que a inspira, como é seu processo de criação e o que está por vir, confira abaixo a entrevista que ela me concedeu.
Rodrigo Costa: “percebo e já ouvi de você mesma que não curte tanto ficar por muito tempo nas redes sociais. Queria saber como lida e controla isso, sabendo que esse lugar faz dos artistas quase que escravos, os necessitando de estar ali a todo momento criando conteúdo para que tenha um mínimo de engajamento.
Amanda Sarmento: “não curto mesmo ficar muito tempo nas redes sociais. Acredito que as redes sociais e o celular em si foram feitos pra viciar a gente, deixar a gente doente da cabeça, tá ligado? É muita informação num espaço curto de tempo. É muita gente, muita opinião, muita cobrança, sei lá… é uma coisa muito louca. Me sinto doente, viciada, de fato, e ansiosa, por causa das redes sociais. Às vezes a internet faz a gente se comparar, se cobrar… principalmente o Instagram. Não nego que também sou viciada nisso, mas, sempre que posso, gosto de me desafiar a deixar as redes sociais de lado por, tipo, uns três dias e depois voltar. As pessoas me cobram de postar mais, dizem que isso vai fazer eu alcançar mais público e eu concordo, mas prefiro alcançar o público pelo meu som, e esse público vai entender minha forma de se comunicar na internet, porque veio até a mim pela minha forma mais pura de expressão, que é a minha arte.”
Rodrigo Costa: “em 24 de setembro de 2021 você lançou seu EP de estreia, LIVRE. Já constando explicitamente no nome, é encontrado um conceito da sua busca pela liberdade negra e feminina, destrinchando suas vivências. Como foi trazer isso para fora de si mesma, fluiu tranquilamente ou foi necessário todo um processo para tocar nesse ponto?”
Amanda Sarmento: “o Livre nasceu mais de uma vontade do que de uma vivência. Eu tinha vontade de me ver liberta de algumas coisas que eu mesma me via presa. Presa à pensamentos ruins, de uma rotina ruim, de relações não saudáveis, de empecilhos que eu mesma me coloco. Então é um processo que ainda está rolando. Liberdade é uma palavra que me persegue desde novinha, e eu sempre me questionei o que é a liberdade, o que é ser uma pessoa livre… e acredito que ser uma pessoa livre é ser uma pessoa que não é escravo de nada, de sentimentos, dos próprios desejos, de rancor, dos outros. Uma pessoa em paz consigo mesma.”
Rodrigo Costa: “na primeira faixa e que dá nome ao EP, há uma citação à Disritmia, do Martinho da Vila, dizendo para alguém que está lhe relacionando que, mais tarde, quando chegar do rolé com suas amigas, é para ir ‘curar tua preta que chegou de porre lá da boemia’. Você acumula referências de gêneros e culturas como o hip-hop, r&b, blues e jazz, e artistas como Flora Matos, Alcione, IAMDDB e Erykah Badu. Conta como você faz para misturar todas essas inspirações culturais e de vivências para, enfim, chegar na sua identidade musical. As experiências e vibes encontradas em suas músicas são majoritariamente suas ou também dá espaço para opiniões que vêm de fora, dos produtores musicais, MC’s ou do que curte ouvir?”
Amanda Sarmento: “a minha identidade musical é uma mistura de todo material que eu ouço e estudo. Eu ouço tanta música que, na hora que o produtor me manda um beat ou quando crio uma melodia, na minha cabeça apenas flui, de maneira intuitiva, natural, juntando todas as referências que ouço. Mas também tem muito dos produtores nos meus sons, óbvio. Ideias de melodia, de dobra, outras referências que produtores me apresentam e eu amo, porque gosto muito de aprender e experimentar coisas novas.”
Rodrigo Costa: “qual é o seu processo de criação e como é a relação com todos que estão ali contigo no estúdio, divergindo as ideias para um resultado final?”
Amanda Sarmento: “geralmente eu já chego no estúdio com uma melodia na cabeça, ou uma letra… depende muito do que tô indo fazer no estúdio, também. No Livre, por exemplo, eu já tinha criado tudo em casa, todas as letras e melodias, já tinha recebido os beats e colei no estúdio só pra gravar, e aí todos que estavam no estúdio davam ideias de como ficaria melhor em um trabalho conjunto entre eu e os produtores, que foram o Carlo e o Lastra, que me acompanharam na maioria das sessões. Mas, já no som que eu tenho com a Larinhx, ‘CANSEI’, a gente criou tudo do zero ali juntas, meio que do nada, juntando nossas referências.”
Rodrigo Costa: “o que tem produzido atualmente e o que seus fãs podem esperar futuramente?”
Amanda Sarmento: “tô produzindo uma mixtape, que vai sair em agosto. O nome dela é VÊNUS 95. Vão ser sons mais pesados e sujos, voltados mais pro rap e drill. Provavelmente em junho saia um single que faz parte da mixtape que está sendo gravada com o selo musical CRISrecords.”